Pulmão

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"Uma resenha sobre saúde e doença respiratória para divulgar os principais temas da pneumologia ao público em geral."

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

DPOC


O Texto abaixo é resultado de uma entrevista realizada por alunas do Curso de Medicina da UFRJ, como parte das atividades desenvolvidas no setor de Telemedicina do IDT para introdução às tecnologias aplicadas à saúde e à educação.

ENTREVISTADO: DR. ALEXANDRE PINTO CARDOSO¹ (PROFESSOR DA FACULDADE DE MEDICINA / UFRJ)

ENTREVISTADORAS: RENATA MICHELIM COLLAREDA DOS SANTOS² E DANIELA MAYUMI YAMAMOTO³ (ALUNAS DO 5º PERÍODO DE MEDICINA /UFRJ).

O QUE É DPOC?

A denominação DPOC significa Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica. Sobre essa denominação são estudadas fundamentalmente duas condições clínicas: a bronquite crônica e o enfisema pulmonar. Ambas têm no vício de fumar cigarro a principal causa, dependendo da susceptibilidade pessoal de desenvolver a doença após exposição a esse fator de risco. Na bronquite crônica, a pessoa apresenta tosse com expectoração por, pelo menos, três meses do ano, consecutivos ou não, durante dois anos seguidos, portanto é uma definição clínica. No enfisema pulmonar, ocorre hiperdistensão e destruição dos septos alveolares, uma definição anatomopatológica⁴. Em proporções variáveis esses dois eventos ocorrem na mesma pessoa, logo a DPOC é o distúrbio que reúne essas duas enfermidades.
A doença é obstrutiva porque essas condições cursam com o obstáculo à saída do ar dos pulmões, concomitante à tosse e expectoração. A definição de DPOC é obstrução das vias aéreas associada à tosse com expectoração e dispnéia que pode ser parcialmente reversível ou não. Obstrução que é desencadeada por exposição a um agente tóxico, sendo o cigarro o principal exemplo, porém a biomassa, a poluição industrial e a deficiência de alfa-1 antitripsina⁵ podem também, em menor escala, produzir essa doença. Essa condição clínica pode produzir duas ou mais exacerbações ou pioras ao ano.

COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO DA DPOC?

O diagnóstico é predominantemente clínico e pode ser feito na presença dos sintomas cardinais, tosse, expectoração e dispneia, em especial em pessoas tabagistas com mais de 40 anos de idade. Exames diagnósticos, radiografia ou tomografia computadorizada de tórax e espirometria, podem indicar, respectivamente, a presença de enfisema ou obstrução ao fluxo aéreo.

A DPOC TEM CURA? QUAL O TRATAMENTO?

A DPOC, dependendo da fase, têm abordagens diferentes. Caso ela seja identificada precocemente, pode haver retorno à condição normal, mas na prática isso não se observa. O mais importante é que se impeça a progressão da doença com medidas importantes como parar de fumar e utilizar os medicamentos. O tipo e a quantidade de medicamentos a serem utilizados dependem do estadiamento clínico que o paciente se encontra e não apenas do diagnóstico. Questões como se há exacerbações do quadro clínico e o número delas ou se o paciente apresenta falta de ar e sua intensidade são importantes para classificá-lo em grupos de menor ou maior gravidade. O tipo de medicamento varia para cada grupo e para todos os pacientes é de importância fundamental parar de fumar.
Outro aspecto importante do tratamento é o uso sazonal de vacinas contra a gripe e pneumonia para evitar infecções. Além disso, se o paciente estiver em fase mais avançada da doença, deve ser orientado a iniciar um programa de reabilitação respiratória e estimulado a fazer atividades físicas regulares. Uma boa relação médico-paciente é importante para que o indivíduo conheça sua doença e as medidas que deve tomar, como redução de esforços em atividades de sua vida diária, de modo que haja boa adesão e resposta ao tratamento.
Na fase inicial, caso o paciente siga as orientações recomendadas, pode não ser necessário o uso habitual de medicação. Na medida em que o quadro da DPOC progride, é preciso utilizar medicamentos broncodilatadores, que podem ser agonistas beta adrenérgicos⁶ de longa duração ou derivados atropínicos⁷, isolados ou associados, que agem no alívio do broncoespasmo. Em pacientes com história prévia de asma brônquica ou que se exacerbam muito, além da associação de broncodilatadores também é feita a associação de um corticóide inalado.
Pacientes que apresentam taxas de saturação de oxigênio abaixo de 90% necessitam de uma suplementação domiciliar de O2. Casos especiais, onde há bolhas enfisematosas⁸ gigantes à radiografia de tórax, podem se beneficiar de tratamento cirúrgico, com a retirada das bolhas que comprimem o parênquima⁹ pulmonar normal, ou da colocação de válvulas endobrônquicas unidirecionais que reduzem essas bolhas de enfisema.
Em casos extremos, pode-se considerar o transplante pulmonar. É importante ressaltar o quanto é difícil o tratamento da DPOC e que o impacto dessa doença diminuiria bastante ao longo dos anos se as pessoas parassem de fumar.

QUAIS SÃO AS MAIORES COMPLICAÇÕES DO DPOC?

A DPOC é doença incapacitante e cursa com grau variável de invalidez. A morte por DPOC se dá por agravamento da insuficiência respiratória ou outras condições associadas como infecções pulmonares, câncer de pulmão e doenças cardiovasculares como arritmias, doença coronarianas, cor pulmonale¹⁰ e embolia pulmonar¹¹. O paciente que com DPOC têm risco aumentado para essas condições e deve ser continuamente monitorado. Sintomas dispépticos¹² também são muito comuns nesse grupo, entre eles o refluxo gastroesofágico que costuma piorar o controle da DPOC por ser causa comum de tosse crônica.


QUAL A POPULAÇÃO MAIS AFETADA POR DPOC?

Pessoas que fumam há muito tempo e tem mais de 40 anos, pois a exposição ao tabaco começa normalmente na juventude, causando adição. Essa exposição continuada faz com que, ao longo do tempo, a doença comece a se manifestar. O tempo pode variar, mas quase nunca com menos de 40 anos, exceto em pacientes com deficiência de alfa-1 antitripsina. Acredita-se que cerca de 3 a 5% da população mundial tenha DPOC, sendo hoje uma das principais causas de morte e de aposentadoria precoce.
Avaliação macro e microscópico de tecidos para o diagnóstico das doenças. Alteração da estrutura estrutura ou função do ventrículo direito, devido direito, devido a hipertensão pulmonar por doenças afetando os pulmões ou vasculatura pulmonar


AUXÍLIO À LEITURA

¹
Formado pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é especialista em pneumologia, com mestrado e doutorado na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, sendo que parte do doutorado foi realizado no Instituto Pasteur, na França. É professor associado da Faculdade de Medicina da UFRJ, é diretor de saúde e coordenador da unidade de Pesquisa do Instituto de Doenças do Tórax da UFRJ. Foi presidente da Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do Estado do Rio de Janeiro (Sopterj) e de seu Conselho Deliberativo. Atuou como Diretor-Geral do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da UFRJ. Também foi Vice-Reitor e Reitor da UFRJ. No CREMERJ é responsável pela Câmara Técnica de Pneumologia e membro da Comissão de Ensino Médico.



²


³



⁴Pertencente ou relativo à anatomia e à patologia ou à anatomia patológica. Que estuda as peças do organismo alteradas por processos patológicos.

⁵A deficiência em alfa 1 antitripsina é uma doença genética caracterizada por uma diminuição ou mesmo ausência desta proteína no sangue. Pode manifestar-se por doença pulmonar, do fígado, e menos frequentemente da pele.

⁶Agonistas beta2-adrenérgico (salbutamol – Aerolin, terbutalina – Brycanil, salmeterol, fenoterol – Berotec): Os agonistas dos receptores beta-adrenérgicos são fármacos para aliviar os ataques repentinos de asma (fármacos de resgate) e prevenir os ataques que o exercício possa causar. Ao estimularem os receptores beta-adrenérgicos, causam a broncodilatação e inibição da função de várias células inflamatórias. (Fonte: http://farmacolog.dominiotemporario.com/doc/cap%208%20-%20farmacos%20tratamento%20da%20asma.pdf).

⁷É um tipo de fármaco com efeito broncodilatador. “A atropina é um alcaloide, encontrado na planta Atropa belladonna e outras de sua família, que interfere na ação da acetilcolina no organismo. Ele é um antagonista muscarínico que age nas terminações nervosas parassimpáticas inibindo-as.”(Fonte: Wikipedia).
⁸Bolhas enfisematosas são definidas como vesículas maiores que 1 cm, cheias de ar e funcionalmente inertes, revestidas por uma parede externa fina, translúcida ou opalescente, com espessura menor que 1 mm, é constituída principalmente pela pleura visceral.

⁹Então, parênquima pulmonar é a parte do pulmão onde se localizam os alvéolos, brônquios e bronquíolos onde ocorrem as trocas gasosas. Espero ter ajudado. O parênquima pulmonar representa o setor de troca de gases do aparelho respiratório.

¹⁰O cor pulmonale é definido como uma alteração na estrutura e no funcionamento do ventrículo direito , causada por uma doença pulmonar. Estima-se que o cor pulmonale responda por 6 a 7% de todos os tipos de doenças cardíacas em adultos, sendo a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) , decorrente de enfisema ou bronquite crônica , a principal causa na maioria dos casos. (Fonte: Portal do Coração).

¹¹Uma doença em que uma ou mais artérias pulmonares ficam bloqueadas por um coágulo sanguíneo. Na maioria das vezes, a embolia pulmonar é causada por coágulos de sangue originários das pernas ou, em casos raros, de outras partes do corpo (trombose venosa profunda). Os sintomas incluem falta de ar, dor no peito e tosse. (Fonte: Hospital Israelita Einstein)

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