Pulmão

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"Uma resenha sobre saúde e doença respiratória para divulgar os principais temas da pneumologia ao público em geral."

domingo, 27 de janeiro de 2019

ALERGIAS RESPIRATÓRIAS X HIGIENE EXCESSIVA


Resultados de uma recente pesquisa, publicados na revista Immunity, indicam que a higiene excessiva pode ser a causa do aumento dos casos de asma e de outras doenças alérgicas das vias aéreas em países industrializados. O argumento é baseado no fato de que os indivíduos, nesses países, são submetidos a ambientes mais limpos, onde são menos expostos a agentes microbianos.

Tomando por base os Estados Unidos, temos os seguintes dados: cerca de 10% das crianças em idade escolar sofrem de asma e quase todas começaram a desenvolver a doença na primeira infância, ou seja, antes dos 5 anos. A asma é caracterizada pela inflamação, espasmos dos músculos ao redor das vias aéreas e um excesso de secreção de muco que obstrui o trato respiratório e dificulta a respiração.

Mas como explicar algo que aparentemente contraria o que é lógico? Pesquisadores da Universidade do Alabama sugeriram a existência de um mecanismo que apoia a hipótese higiênica observando a asma em ratos: eles descobriram que os ratinhos jovens, para evitar o desenvolvimento de reacções asmáticas a ácaros, necessitam de uma elevada exposição à endotoxina bacteriana chamada lipopolissacárido, LPS ou microbianos (lipopolissacárido). No caso dos ratos adultos, uma baixa exposição é suficiente para prevenir a asma. Tais diferenças entre ratos jovens e adultos levaram os pesquisadores a realizar diversos experimentos.

Na conclusão dos cientistas os "resultados fornecem um mecanismo plausível na base da maior suscetibilidade à inflamação alérgica das vias aéreas vistas em crianças criadas em ambientes super limpos e esterilizados".

Bibliografia
Bachus H et al. A ativação de células dendríticas dirigida por fator de necrose tumoral prejudicada Proteção induzida por lipopolissacarídeos da inflamação alérgica em lactentes. Imunidade. 15 de janeiro de 2019. Volume 50. Edição 1 P225-240.E4

Leia mais em: Pharmastar

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Cortina de fumaça

Imagem de: @JohnRossMD publicada em: https://www.health.harvard.edu

Os cigarros eletrônicos continuam gerando muita discussão. Recentemente, o Dr. Drauzio Varella publicou um texto que demonstra bem os motivos da polêmica. Ele mostra como o produto, criado sob a bandeira de auxiliar fumantes a superar a dependência química, se transformou em alvo de investimentos por parte da indústria do tabaco - assim, se antes já havia muita desconfiança em relação ao uso do cigarro eletrônico, agora há muito mais.

Em seu texto, o Dr. Drauzio mostra que a fabricante dos cigarros Marlboro e Parliament, a gigante Altria, investiu 12,8 bilhões de dólares na compra de 35% da empresa Juul Labs, responsável por 1/3 do mercado de cigarros eletrônicos nos Estados Unidos. Mas afinal, o que empresas que comercializam produtos com finalidades tão antagônicas poderiam ter em comum?

O autor nos traz informações valiosas no sentido de entendermos melhor o que se passa nesse processo: A Juul Labs permanecerá com sua independência administrativa, mas ganhará toda infraestrutura de propaganda e marketing da Altria e sua subsidiária, Philip Morris; os cigarros eletrônicos permanecem com atrativos ao público infanto-juvenil (com formatos e sabores que agradam a esse público); o percentual de alunos do ensino médio que fumaram cigarros eletrônicos passou de 28% em 2017 para 37% em 2018, segundo inquérito do National Institute on Drug Abuse; e, por último, no mesmo inquérito foi observado que o número de alunos que usaram cigarros comuns caiu de 22% para 3,6% em vinte anos.

A estratégia não é complexa: estudos mostram que usuários de cigarros eletrônicos se tornam fumantes convencionais com mais frequência - então, ao incentivar o consumo de cigarro eletrônico (defendido como algo inofensivo), a indústria do tabaco cria um mercado em potencial. É uma estratégia "sinistra" nas palavras do Dr. Drauzio.

Além de tudo, pesquisas estão demonstrando que o cigarro eletrônico não é tão inofensivo, quanto se pensava, e nem é tão eficaz no auxílio a fumantes que desejam parar de fumar, como se defendia. Há evidências de que seu uso está associado ao aumento do risco de infarto e enfisema, entre outras doenças.

De acordo com o médico, anos de efetivo combate ao tabagismo no Brasil ajudaram o país a reduzir significativamente a massa de fumantes e, por isso, é importante adotar medidas preventivas em relação ao cigarro eletrônico. Em suas palavras: "Sem controle, os cigarros eletrônicos tornarão dependentes de nicotina milhões de crianças brasileiras."

Leia mais em: UOL

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Influência do tabagismo na doença periodontal


Autora: Profª Anna Thereza Thomé Leão¹

A fumaça do cigarro é composta de nicotina e alcatrão, além de outros compostos químicos cancerígenos que apresentam efeitos deletérios na mucosa da boca. Somado a isto, ocorre uma agressão térmica à mucosa gerada pelo calor da fumaça.

A placa bacteriana junto a um hospedeiro susceptível leva à doença periodontal. Como o tabagista tem a saúde afetada pelos componentes do cigarro, torna-se um hospedeiro susceptível.

Estudos mostram que fumantes apresentam doença periodontal mais grave, além de serem 6 vezes mais propensos a desenvolverem a periodontite que o não fumante. Eles apresentam bolsas periodontais mais profundas, mais recessão gengival causando a exposição das raízes dos dentes e mais perda de osso alveolar. Com todas estas alterações eles têm uma maior prevalência de perdas de dentárias.


Concentrações mais elevadas dos produtos da fumaça do tabaco podem levar a alterações do sistema imune. Causando a diminuição na quimiotaxia e função dos neutrófilos, diminuição na produção de citocinas pró-inflamatórias e dos níveis séricos das imunoglobulinas. Além disso, o tabaco estimula a liberação pelos neutrófilos de substâncias com potencial para destruição tecidual, como por exemplo, enzimas proteolíticas. As bactérias patogênicas que estão associadas à doença periodontal são encontradas em níveis mais elevados nos fumantes, mesmo em um quadro de saúde gengival, deixando-os mais predispostos à periodontite.

A periodontite está muito associada ao hábito de fumar. O tabagista, quando comparado ao não fumante, perde mais dentes durante a doença periodontal do que os não fumantes porque normalmente apresentam a doença em nível mais grave e têm mais recessão gengival.

Além disso, os fumantes respondem pior a diversos tratamentos. Dentre estes podemos citar a terapia de raspagem periodontal , a cirurgia periodontal, procedimentos regenerativos e maior prevalência de insucessos nas terapias de implantes neste grupo. O fumo compromete as funções protetoras de resposta do hospedeiro, prejudicando a função dos neutrófilos e macrófagos e afeta a resposta de algumas imunoglobulinas a bactérias periodontopatogências.

As substâncias do cigarro levam a uma vaso-constricção dos tecidos, reduzindo o fluxo sanguíneo de forma crônica, afetando os tecidos bucais e causando efeitos citotóxicos, alterando a função dos fibroblastos, que atuam na cicatrização dos tecidos.

Os benefícios da cessação do tabagismo têm sido convincentes. Foi demonstrado que o ex-fumante, quando comparado ao fumante, apresenta menor destruição periodontal, menos dentes perdidos e melhor resposta à terapia.

¹
Graduação em Odontologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1981) e doutorado em Odontologia Social pelo UniversityCollege London (1993). Atualmente e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de Odontologia, com ênfase em periodontia, atuando principalmente nos seguintes temas: determinantes comportamentais, sociais e psicológicos relacionados à periodontia, questionários sobre saúde percebida e qualidade de vida; e medicina periodontal.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Filhos de fumantes 'têm mais chance de morrer' de doenças de pulmão na vida adulta


Crianças que crescem ao lado de adultos fumantes têm mais risco de morrer de uma doença grave de pulmão, mesmo se elas próprias não fumarem na vida futura.

É o que aponta uma nova pesquisa da Sociedade Americana do Câncer. Já era sabido que crianças cujos pais fumam têm mais risco de desenvolver problemas pulmonares ou vasculares na infância – como asma ou aumento da pressão sanguínea. Mas nunca antes uma pesquisa havia demonstrado o efeito na vida adulta.

"Esse é o primeiro estudo que identifica uma associação entre a exposição da criança à fumaça do cigarro e a morte por doença pulmonar obstrutiva crônica na meia-idade e velhice", afirma Ryan Diver, um dos autores do estudo.

A pesquisa analisou a saúde de 70,9 mil pessoas não fumantes, homens e mulheres, que vinham sendo acompanhadas há mais de duas décadas. Um terço delas, inclusive, já tinha falecido antes da pesquisa.

O resultado da análise é que as pessoas que conviveram com um adulto fumante apresentaram mais complicações de saúde ao longo da vida.

A exposição a fumaça de cigarro na infância, por dez horas ou mais por semana, aumentou o risco de morte na vida adulta por doença pulmonar obstrutiva crônica em 42%, doença cardíaca isquêmica em 27%, e acidente vascular cerebral em 23% – em comparação com aqueles que não conviveram com fumantes quando crianças.

"O fumo passivo tem um impacto duradouro, muito além da infância", afirma o médico Nick Hopkinson, conselheiro da Fundação Britânica do Pulmão.

Parar de fumar é a melhor forma de proteger as crianças – e a si próprio.

Leia mais em BBC