Pulmão

Pulmão
"Uma resenha sobre saúde e doença respiratória para divulgar os principais temas da pneumologia ao público em geral."

segunda-feira, 26 de março de 2018

Tuberculose - um flagelo antigo



"Só se domina completamente uma ciência, conhecendo sua história."
Augusto Comte

Texto de: Carla Santos¹

Tuberculose é caracterizada como uma doença com forte impacto social e está intrinsecamente ligada à história da humanidade. Registros arqueológicos demonstram que o homem e o Mycobacterium tuberculosis, seu agente etiológico, convivem juntos há muito tempo. Há relatos de evidência de tuberculose em ossos humanos encontrados na Alemanha em 8000 AC e em esqueletos egípcios em 2500 AC. Em diversas civilizações antigas, a tuberculose era considerada um “castigo divino” e coube a Hipócrates o entendimento que se tratava de uma doença.

A formação de aldeias e conglomerados contribuiu para a disseminação da tuberculose, pelo maior convívio de pessoas em áreas fechadas. As guerras também permitiram que a tuberculose se espalhasse mundo afora, uma conseqüência da miséria produzida pela constante luta dos povos para aumentar seus domínios. Durante os séculos XIV e XV, os médicos da região que hoje corresponde à Itália, começam a identificar a possibilidade de a tuberculose tratar-se de uma doença contagiosa.

No Brasil, no período de colonização, foram trazidos para cá jesuítas e colonos portadores da doença que colonizaram os índios. Em cartas de Inácio de Loyola (1555) e José de Anchieta (1583) dirigidas ao Reino português, está escrito “os índios, ao serem catequizados, adoecem na maior parte com escarro, tosse e febre, muitos cuspindo sangue, a maioria morrendo com deserção das aldeias”.

No final de século XVIII e início do século XIX, com a Revolução industrial na Inglaterra, multidões de operários se concentraram nos centros urbanos, subalimentados e vivendo abaixo da condição humana e foram vitimados pela tuberculose, cuja mortalidade atingiu a 800/100.000 habitantes em Londres. Na segunda metade do século XIX, a mortalidade por tuberculose nas capitais européias chegava a 400 a 600/100.000 habitantes, cerca de 30% da mortalidade geral.

Por possuir diversas formas de manifestação e, por ter vitimado, ao longo da história, inúmeros cientistas, poetas, músicos, artistas em geral e monarcas, durante um período trazia em si certo glamour. Esses tuberculosos célebres, muitas vezes, utilizaram a doença como estímulo às suas manifestações criativas e contribuíram para conferir-lhe romantismo e dramaticidade.
Em 1882, Robert Koch descobre o agente causador da tuberculose e em 1885, Roentgten descobre a radiografia que facilita o diagnóstico e acompanhamento da doença. Naquela época, o tratamento consistia em isolar o paciente em sanatórios ou repousar em locais de clima ameno, até meados do século XX, quando começam a surgir os quimioterápicos eficazes no tratamento da tuberculose.
Não obstante a quimioterapia, na atualidade morrem anualmente de tuberculose no mundo, 1 a 1,5 milhões de pessoas, sendo que a grande maioria nos países em desenvolvimento.

Referência:
TUBERCULOSE - ASPECTOS HISTÓRICOS, REALIDADES, SEU ROMANTISMO E TRANSCULTURAÇÃO. José Rosemberg. Boletim de Pneumologia Sanitária Vol. 7, Nº 2 – jul/dez – 1999

¹ Enfermeira, mestre em Ciências pela UFRJ, atuando no Laboratório de Pesquisa em Tuberculose/Instituto de Doenças do Tórax desde 2003, Parecerista do Comitê de Ética em Pesquisa/ Hospital Universitário Clementino Fraga Filho desde 2015, desenvolvendo ações de capacitação na Unidade de Telemedicina nas áreas de Telessaúde e EAD desde 2016.

Nenhum comentário:

Postar um comentário