Pulmão

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"Uma resenha sobre saúde e doença respiratória para divulgar os principais temas da pneumologia ao público em geral."

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Fumantes têm maior chance de desenvolver quadros graves de Covid-19

Imagem: Serhii Sobolevskyi / iStock

A Covid-19 é uma doença de aparecimento recente e por esse motivo ainda não existem muitos estudos sobre a sua relação com o tabagismo, porém dados registrados na China, onde a epidemia teve início, mostram que o número de pacientes com a Covid-19 grave, ou seja, com insuficiência respiratória e necessidade de tratamento em terapia intensiva, foi maior entre os fumantes, especialmente naqueles mais idosos e com doenças crônicas não infecciosas, em sua maioria causadas ou agravadas pelo tabagismo. Entre os pacientes com formas graves da doença, os fumantes morreram em maior porcentagem do que os indivíduos que não fumavam.

O fumante possui mais chances de desenvolver sintomas graves da Covid-19 em decorrência do quadro inflamatório crônico produzido pelo tabaco nos pulmões. Outro risco associado ao tabagismo é que o hábito de fumar requer levar as mãos frequentemente aos lábios, o que aumenta a chance de infecção pelo coronavírus.

A fumaça do tabaco é nociva às células respiratórias e causa inflamação que se estende do nariz até as estruturas microscópicas responsáveis pela absorção do oxigênio, chamadas de alvéolos. Com a repetição da exposição, o dano vai ficando permanente, levando à inflamação crônica dos brônquios (bronquite crônica) e à destruição completa dos alvéolos (enfisema), o que caracteriza a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), principal doença pulmonar relacionada ao tabagismo.



O tabaco causa diferentes tipos de inflamação e prejudica os mecanismos de defesa do organismo. Os fumantes têm maior risco de infecções por vírus, bactérias e fungos e, por isso, são acometidos com maior frequência por infecções como sinusites, traqueobronquites, pneumonias e tuberculose. Fumantes e portadores de DPOC apresentam níveis mais altos de uma molécula chamada ACE-2 (enzima conversora de angiotensina II) nos pulmões. Estudos anteriores já demonstraram que a ACE-2, que se localiza na superfície dos alvéolos pulmonares, é a “porta de entrada” que permite ao coronavírus se instalar nos pulmões provocando a infecção que pode ter evolução para quadros graves e levar até a morte.

No Brasil, estima-se que haja atualmente cerca de 15 milhões de fumantes.Embora o tabagismo não figure na lista de comorbidades associadas ao risco maior de apresentar formas graves da Covid-19, acreditamos que deva ser considerado como fator de risco potencial mesmo na ausência de DPOC ou outra doença respiratória de base.

Leia Mais:

Quem fuma faz parte do grupo de risco para o coronavírus (Covid-19)?

Covid-19 e tabagismo

Coronavírus X fumo

sábado, 18 de abril de 2020

As experiências positivas de alguns países no controle da Covid-19

Conteúdo originalmente publicado em Correio Braziliense, 17/04/2020

Diante da grave situação de saúde que o mundo atravessa, quatro países, Taiwan, Coréia do Sul, Islândia e Alemanha vêm se destacando pela forma como estão enfrentando o problema e pelo sucesso das medidas que auxiliaram no achatamento da curva pandêmica. Esses 4 países impuseram, ou não, fortes restrições de isolamento social; atuaram com rapidez; rastrearam infectados com o uso da tecnologia; apostaram na prevenção; construíram capacidade hospitalar e priorizaram o maior número de testes possível.

Com uma população de 24 milhões de pessoas, Taiwan registrou, até a última contagem, 395 casos confirmados e apenas 6 mortes. A previsão, segundo o Centro de Pesquisa do Coronavírus da Universidade Johns Hopkins, era de que seria o segundo país com o maior número de casos. No país não houve fechamento de escolas e de creches e nem foi determinado o distanciamento entre os cidadãos. Suas principais ações foram a inspeção de todos os aviões procedentes de Wuhan (cidade da China onde foi identificado o foco inicial da doença, criação de um centro de comando e produção em massa de equipamentos de proteção individual. Para o embaixador de Taiwan em Brasília, Jian-Gueng Her, o êxito das ações se deve a ação rápida e preventiva em relação ao problema.

A Coreia do Sul, com 51,8 milhões de habitantes, registrava em 16 de abril 10.613 casos de contágio (0,02%) e 229 mortes. Segundo Chan Woo Kim, embaixador do país em Brasília, a resposta contra a Covid-19 pode ser resumida no Plano 3T (“Teste, rastreamento e tratamento”). Até ontem já tinham sido concluídos 538 mil testes realizados e também um rastreamento com investigação epidemiológica completa das pessoas que tiveram contato com pacientes confirmados. O tratamento foi baseado em sistemas médicos avançados em que os doentes se recuperaram rapidamente – assim, até aqui 73% dos pacientes foram completamente curados e a taxa de mortalidade está em 2,1%. Os cidadãos aderiram às medidas de quarentena, atenção especial à higiene, ao distanciamento e ao auto-isolamento. De acordo com Chan Woo Kim, isso aconteceu porque as medidas de combate ao novo coronavírus estão sendo baseadas na transparência e na abertura, de forma ativa.


Na Alemanha, no dia 16 de abril já haviam sido registrados 136.569 casos da doença e quase 4 mil mortos. Embora o número de mortes esteja aumentando no país, a taxa ainda é baixa se comparada a outros países da Europa, como Espanha e Itália, e desde o início de abril, o número de novos casos vem diminuindo. Medidas cautelosas estão sendo tomadas para amenizar a situação, como reabertura de lojas, sob condições especiais de higiene, ampliação das restrições de contato e manutenção das restrições de entrada no país.

O quarto país, a Islândia, tem 350.734 habitantes e em 16 de abril contabilizava oito mortes. O plano adotado no país foi bastante agressivo e inclui: diagnosticar as infecções, traçar contatos sociais e usar a polícia para se comunicar com quem testa positivo. A parceria entre o Hospital Universitário Nacional da Islândia e a empresa de biotecnologia deCODE Genetics permitiu testar 10% da população.

Apesar da Europa seguir no “olho do furacão” da epidemia alcançando a marca de quase 1 milhão de casos, também tem havido sinais animadores nas últimas semanas em países como Espanha, Itália, França e Suíça, como declarou o diretor da seção Europa da Organização Mundial da Saúde (OMS), Hans Kluge.

As experiências relatadas acima mostram que é possível buscar o controle da pandemia de formas diversas, mais ou menos rígidas, adaptando as ações ao perfil populacional e epidêmico local, sempre com responsabilidade e cuidado com a saúde da população.

Leia mais em: Correio Braziliense

sábado, 11 de abril de 2020

O que precisamos saber sobre máscaras de proteção?


A máscara de proteção se transformou em um item bastante procurado nos últimos meses e chegou a esgotar nos pontos de venda. Essa grande procura despertou a criatividade de muitas pessoas para desenvolver suas próprias versões do objeto – algumas válidas, outras até perigosas. É preciso entender esse objeto, a que se aplica e como funciona a fim de que seja feito bom uso. Por isso, queremos responder algumas das principais perguntas que envolvem o uso de máscaras de proteção.

1) O que é uma máscara de proteção?
Trata-se de um equipamento de proteção individual (EPI) indicado para evitar a contaminação e outros danos à saúde que ocorrem através do aparelho respiratório. As máscaras são criadas com o objetivo de filtrar partículas, principalmente aquelas que são invisíveis a olho nu – poeiras, vapores de produtos químicos e orgânicos, gases nocivos, ar contaminado com agentes biológicos etc.

2) Quais são os tipos de máscaras de proteção que existem?

São diversos tipos de máscaras que existem e as características estão associadas ao tipo de uso, material que se deseja filtrar, tempo de exposição, entre outros fatores. As máscaras se dividem basicamente em semifaciais e inteiras e alguns tipos principais são:
a) Máscara semifacial descartável – cobre a boca e o nariz e é usada para filtragem de resíduos de baixa concentração, reduzindo a exposição a microorganismos, fluidos corporais e partículas grandes no ar. As mais comuns são a máscara cirúrgica descartável e o respirador N95 que possui maior durabilidade que a anterior.
b) Máscara semifacial reutilizável – cobre boca e nariz e é usada para proteção contra gases e vapores, possuindo um filtro químico.
c) Máscara facial inteira – cobre todo o rosto, incluindo os olhos, e possui filtro (descartável) para filtragem de partículas.
d) Máscara de ar comprimido – possui cilindros de ar comprimido, podendo ser utilizada em ambientes com baixo nível de oxigênio ou com altas concentrações de gases nocivos ou outros contaminantes.

3) Quando o uso de máscara é obrigatório?
Algumas situações podem tornar necessário o uso de máscaras de proteção, como quando se identifica que o ar em uma determinado ambiente apresenta condições potencialmente nocivas (baixos níveis de oxigênio e/ou altas concentrações de poluentes, presença de certos agentes biológicos) à saúde respiratória – isso se dá principalmente em casos de poluição extrema, catástrofes naturais e em certos ambientes laborais. Este último se refere às profissões que exigem o uso de EPIs, como: profissionais de saúde (auxilia na proteção contra microorganismos e intoxicação por materiais presentes na prática profissional diária), mineradores (proteção contra o pó de minério e auxílio em ambientes subterrâneos) e bombeiros (proteção contra fumaça que pode ser tóxica), entre outros.

4) O que é necessário para que o uso de máscaras seja realmente efetivo na prevenção de agravos respiratórios?
Para que o uso seja efetivo na prevenção de contaminação, por exemplo, é necessário avaliar corretamente o risco, a fim de que se escolha o tipo de máscara mais adequado e, principalmente que se faça o uso correto desse recurso – é fato que o uso incorreto pode significar mais um risco de contaminação em vez de servir para proteção. Para o uso adequado é necessário seguir alguns passos importantes, principalmente quando consideramos o risco de contaminação por agente biológico:
- É importante higienizar as mãos antes de colocar a máscara;
- Ao colocar o item, deve-se ajustar ao nariz e ao rosto para que não fique frouxa;
- É fundamental não manipular a máscara durante o período que permanecer com ela;
- Enquanto estiver em uso, a máscara não deve ser pendurada em uma das orelhas ou no queixo, por exemplo – é importante manter a posição correta;
- Ao retirar deve-se tomar o cuidado de não tocar a máscara, retirando-a pelos elásticos ou tiras;
- Após a remoção da máscara, é essencial que seja realizada a higienização das mãos;
- É importante respeitar o tempo de uso e as instruções de descarte recomendados pelo fabricante.

5) Em casos como a pandemia de coronavírus, usar máscara pode realmente reduzir a contaminação? Quanto?
Observe o desenho abaixo, ele pode nos dar uma noção de como as máscaras, utilizadas corretamente, podem auxiliar na redução do risco de contaminação por agente biológico. O risco pode ser observado em todos os casos, considerando que há uma proximidade entre as duas pessoas – nesse sentido, entendemos por que o distanciamento se torna fundamental na redução do risco mas, basicamente, observamos que:
- Quando as duas pessoas estão sem máscara o risco de contaminação é muito alto.
- Se a pessoa doente não usa máscara, mesmo que a pessoa não contaminada use máscara, ela corre riscos porque há outras partes do corpo expostas, incluindo os olhos – o risco de contaminação ainda é alto.
- Se a pessoa doente usa máscara, mas mantem aproximação com uma pessoa saudável ainda há um risco médio de contaminação porque a máscara não retém 100% das partículas contaminadas.
- Quando as duas pessoas usam máscaras o risco de contaminação se torna baixo, mas ainda existe.

Observamos que o uso de máscaras não elimina o risco de contaminação e é por isso que há uma recomendação para a combinação de outras medidas consideradas efetivas: higiene das mãos, etiqueta respiratória ao tossir ou espirrar, distanciamento e isolamento social, quarentena para os doentes, entre outras.

Pode parecer bobagem falar de uso correto de máscaras de proteção quando falamos de profissionais de saúde, mas segundo dados da OIT (Observatório Digital de Saúde e Segurança do Trabalho) ocorreram mais de 8.600 acidentes de trabalho relacionados a segurança respiratória desde 2012 por falta de uso de EPIs e/ou por seu uso incorreto. Por isso mesmo, é necessário reforçar a importância do uso adequado do equipamento considerando ambiente, tipo de risco, tipo de equipamento e público envolvido.

Assista o vídeo: Máscaras. O manual de instrução feito pela OMS para evitar erros

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Taxa diária de mortalidade pela Covid-19 já supera a da tuberculose


Texto originalmente publicado na BBC


De acordo com o texto da BBC, todos os anos, aproximadamente 10 milhões de pessoas são infectadas pela bactéria Mycobacterium tuberculosis e desenvolvem tuberculose – doença que é "curável e evitável", pois há métodos de prevenção, vacina e medicamentos comprovadamente eficazes. Mesmo assim, é a mais letal causada por um “agente infeccioso único” e uma das 10 que mais matam no mundo. A transmissão da tuberculose se dá pelo ar contaminado em ambientes onde ocorrem espirros e tosse de pessoas doentes. Ela normalmente afeta os pulmões de adultos em idade ativa, mas todas as faixas etárias podem sofrer com a doença. Dados revelam que em 2018, 30 países com a maior incidência concentraram 87% dos casos, entre eles Índia, China e África do Sul. No Brasil, foram registrados 73.864 mil novos casos em 2019 com cerca de 5 mil mortes. Segundo o Ministério da Saúde, a maior causa das mortes é o abandono do tratamento. Assim, um desafio, ainda nos dias de hoje, é garantir que o paciente conclua o tratamento que dura, em média, seis meses e que é oferecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde.

Apesar do quadro alarmante da tuberculose no Brasil e no mundo, temos observado recentemente o aumento significativo do número de óbitos pelo novo coronavírus. De acordo com a comparação feita pela BBC, o número por dia de mortos da covid-19, já se tornou maior do que a média diária de mortos de tuberculose - a doença infecciosa mais letal do mundo. No dia 1º de abril, foram mais de 4,6 mil mortos, segundo o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC), e no 2 de abril, esse número já havia ultrapassado a marca de 5 mil mortos por dia. A tuberculose, segundo a Organização Mundial da Saúde, matou cerca de 4,1 mil por dia em 2018.

Apesar de tudo, de acordo com a BBC é preciso ressalvar, no entanto, que a covid-19 é uma doença nova e cuja real letalidade só será conhecida ao fim da pandemia

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