Pulmão

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"Uma resenha sobre saúde e doença respiratória para divulgar os principais temas da pneumologia ao público em geral."

sexta-feira, 25 de maio de 2018

NOVAS ADVERTÊNCIAS NOS MAÇOS DE CIGARRO



Em 31 de maio comemora-se o Dia Mundial Sem Tabaco e especificamente neste ano de 2018 será relembrada a campanha da ONU, iniciada em 1987, para redução do consumo de tabaco no mundo.

Todos os anos morrem cerca de 6 milhões de pessoas em todo o mundo por doenças relacionadas ao consumo do tabaco e muitas dessas mortes poderiam ser evitadas apenas com a redução do consumo do fumo.

No Brasil, uma iniciativa que obteve grande sucesso na redução do consumo do tabaco foi a advertência com imagens nas embalagens dos produtos derivados. Essa ação que teve início em 2002, adverte o usuário sobre os malefícios do cigarro para a sua saúde e tem sido considerada responsável pela significativa redução no número de tabagistas. O Brasil foi o segundo país a adotar a medida, mas hoje ela está presente em pelo menos 67 países.

A estratégia tem sido amplamente incentivada, mas ganhou força após a criação da Convenção-Quadro da OMS para Controle do Tabaco (CQCT - OMS) - que foi o primeiro tratado internacional de saúde pública na história, envolvendo a OMS e 192 países membros da Assembléia Mundial de Saúde. A CQCT entrou em vigor em fevereiro de 2005 e determina que sejam adotadas medidas de controle e prevenção intersetoriais em diversas áreas: advertências sanitárias, publicidade e propaganda, tabagismo passivo, comércio ilegal, etc.

Seguindo estas determinações e a necessidade de atualização contínua das medidas, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou a Resolução da Diretoria Colegiada nº 213/2018 (http://portal.anvisa.gov.br/legislacao/?inheritRedirect=true#/visualizar/366235) sobre as novas imagens de advertência nos maços de cigarro. O novo modelo ganhou uma apresentação gráfica diferenciada, com fundo amarelo e letras pretas, e a abordagem passou a ser mas direta - em vez da frase "O MInistério da Saúde Adverte", o texto diz "Você envelhece precocemente", "Você tem câncer", "Você brocha", etc. As imagens e frases fazem referência aos seguintes temas: câncer de boca, cegueira, envelhecimento, fumante passivo, impotência sexual, infarto, trombose e gangrena, morte e parto prematuro.

A nova campanha abrange, por determinação legal, todos os produtos derivados do tabaco. Com imagens fortes e, em alguns casos, até chocantes, a estratégia foi radicalizada e tem por objetivo uma maior sensibilização dos consumidores sobre os riscos que correm frente ao tabagismo.

sexta-feira, 18 de maio de 2018

É possível prevenir pneumonia em idosos



Nos meses mais frios do ano, ouvimos falar muito sobre a temporada de gripe, mas outra infecção respiratória é potencialmente perigosa para a população idosa: Pneumonia.

Pneumonia é a principal complicação da gripe e a maior responsável pelas hospitalizações e óbitos por gripe em todo o mundo, inclusive no Brasil. Dados do DATASUS apontam um grande incremento nas hospitalizações e óbitos por pneumonias durante a estação do vírus influenza.

Pneumonia é a terceira causa de internação hospitalar no Brasil e 60% desses pacientes são idosos.

Para adultos saudáveis, sem doença subjacente, pneumonia não costuma ser um problema. Entretanto, o mesmo não pode ser dito para os idosos. Pneumonia pode ser causada por bactérias, vírus ou outros agentes, mas independente do agente causal, é uma condição que pode assumir gravidade em indivíduos acima de 65 anos. A diminuição da capacidade pulmonar que naturalmente ocorre com o envelhecimento e condições predisponentes como doenças cardiorrespiratórais prévias e diabetes tornam essas pessoas mais suscetíveis à pneumonia.

Saber reconhecer os sintomas de pneumonia em idosos é fundamental porque muitos pacientes podem não apresentar os sinais clássicos como febre, calafrios e tosse. Pneumonia em idosos pode ser assintomática como resultado de uma resposta imune deficiente. Sintomas não respiratórios como fraqueza, confusão ou diminuição de apetite podem dificultar o reconhecimento preciso dos sintomas de pneumonia.

Embora o evento inicial da pneumonia ocorra nos pulmões, seus efeitos podem ser generalizados e atingir a circulação sanguínea, causando bacteremia, hipotensão, complicações renais, meningite e óbito.

Certos fatores podem aumentar o risco de pneumonia em idosos, como diabetes, doença de Parkinson, doenças pulmonares como asma, fibrose cística, bronquiectasias e DPOC, doenças cardíacas, alcoolismo, imunossupressão e viver em instituições fechadas como asilos, hospitais ou casas de repouso.

Como prevenir?

1. A prática de bons hábitos de higiene como higienizar as mãos com frequência e manter boa higiene oral são úteis na prevenção ao reduzir a exposição a agentes potencialmente agressivos ao sistema respiratório;
2. Pacientes identificados como “de risco” devem receber vacina pneumocócica;
3. Manter bons hábitos alimentares e atividades físicas regulares ajudam a manter o sistema imunológico apto a defender o organismo de infecções;
4. Não fumar. O tabagismo é um fator de risco para pneumonia porque agride a mucosa pulmonar e reduz a capacidade de defesa dos pulmões.

sexta-feira, 11 de maio de 2018

Rinite alérgica e suas consequências na qualidade de vida



AUTORA: Renata Michelim Collareda dos Santos¹ (aluna do 8º período de medicina /UFRJ).

SUPERVISÃO E EDIÇÃO: Profª Sonia Catarina de Abreu Figueiredo²

Rinite alérgica é uma doença crônica da mucosa do nariz que apresenta como sintomas espirros em série, coriza intensa de aspecto aquoso, obstrução e prurido nasal. Prurido ocular, lacrimejamento e prurido no canal auditivo podem estar presentes. Os sintomas iniciam após exposição aos fatores desencadeantes como poeiras, ácaros, baratas, fungos, pelos de gatos e cachorros, exposição a poluentes (fumaça de cigarro, queimadas). Até mesmo perfumes ou produtos de limpeza com odores fortes podem desencadear uma crise de rinite alérgica.

A rinite alérgica é classificada como intermitente (sintomas < 4 dias/semana ou < 4 semanas) ou persistente (> 4 dias/semana e > 4 semanas), de acordo com a frequência dos sintomas e leve ou moderada/grave, conforme a intensidade deles.

Existe um fator genético relacionado a essa condição de saúde. Se há histórico familiar de alergia respiratória, são grandes as possibilidades de uma pessoa ter essa condição. A rinite alérgica pode surgir em qualquer idade, não há uma faixa etária prevalente e nem mesmo há predominância entre os sexos.

Pessoas que sofrem com rinite alérgica costumam ter inúmeros prejuízos a sua qualidade de vida, devido aos incômodos que seus sintomas trazem. A obstrução nasal secundária à rinite pode causar distúrbios do sono, levar à sonolência diurna e diminuição do desempenho escolar ou no trabalho. Os sintomas persistentes de rinite podem ocasionar irritabilidade, ansiedade e distúrbio alimentar com consequentes impactos na vida social e profissional do indivíduo.

A rinite alérgica isolada já se constitui um sério desconforto, mas pode estar associada e até favorecer a ocorrências de outras doenças. Dentre as comorbidades associadas à rinite alérgica temos a conjuntivite alérgica, a rinossinusite aguda e crônica, a tosse crônica, a apneia obstrutiva do sono e a asma. Indivíduos com asma controlada que apresentam sintomas persistentes de rinite podem apresentar piora da asma. Rinite alérgica não controlada é um gatilho para crise de asma. A presença de rinite incorretamente tratada ou não tratada em asmáticos pode elevar em até três vezes o risco de ocorrência de exacerbações.

Por tudo isso, o controle dos sintomas é fundamental para melhorar a qualidade de vida do portador de rinite alérgica. Além de medicamentos específicos, o tratamento não farmacológico, que inclui rigoroso controle de ambiente doméstico e no trabalho, tem papel primordial.

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² Graduação em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1982), Residência Médica em Pneumologia no Instituto de Tisiologia e Pneumologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1985, Mestrado em Pneumologia e Tisiologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1992) e Doutorado em Ciências Biológicas (Genética) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2006). Possui experiência em Genética Molecular e de Microorganismos. É professor do departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro desde 1995. Na área de Pneumologia, tem interesse principalmente nos temas Tuberculose, Asma, Pneumopatias Intersticiais e Ensino Médico. Coordenadora de Residência Médica do Instituto de Doenças do Tórax de 1994 a 2001. Coordenadora de Ensino e Extensão do Instituto de Doenças do Tórax de 2006 a 2009. Diretora Executiva do Instituto de Doenças do Tórax da Universidade Federal do Rio de Janeiro de 2009 a 2013. Coordenadora de Telemedicina do Instituto de Doenças do Tórax desde 2008.

sexta-feira, 4 de maio de 2018

História dos sanatórios no tratamento de tuberculose: prevenção ou isolamento?


Foto: tirada em 03/05/2009 por André Govia - (fonte: https://www.flickr.com)

Texto de: Carla Santos¹

A Tuberculose (TB) é caracterizada como uma doença com forte impacto social e está intrinsecamente ligada à história da humanidade. Por tratar-se doença infecciosa transmitida pelo ar, o paciente tuberculoso sempre foi considerado uma fonte de contágio e de perigo para a sociedade. O risco de transmissão e a falta de opção terapêutica tornaram o doente uma pessoa estigmatizada.(http://pulmaoonline.blogspot.com.br/2018/03/tuberculose-um-flagelo-antigo.html).

No século XIX, surge a idéia do tratamento dos tísicos em estabelecimentos fechados, onde deviam permanecer e receber alimentação adequada. De meados do século XIX até meados do século XX, uma das medidas mais eficazes que existia no tratamento da TB era a internação dos doentes em sanatórios. O primeiro centro foi criado em Gobersdorf (Silésia), nos Alpes alemães, em 1854, por iniciativa do médico Herman Brehmer. As bases científicas do sanatório antituberculose foram propagadas por Dettweiller, que lutou durante 20 anos para, em 1860, afinal, impor suas concepções. Inicialmente, os sanatórios eram centros particulares com características semelhantes às dos hotéis de luxo, mas, posteriormente, na Europa e em outras partes do mundo, foram criados sanatórios públicos para atender os pacientes tuberculosos pobres.

O apogeu dos sanatórios ocorreu após a descoberta do bacilo de Koch, em 1882. A base do tratamento consistia em ar puro, alimentação abundante e descanso, embora o paciente pudesse praticar exercícios moderados. O sanatório era o lugar onde o paciente tomava consciência de sua condição e se sentia pertencente a um grupo com uma identidade própria, do qual fazia parte. Uma vez curados, alguns pacientes permaneciam no sanatório e até chegavam a trabalhar nele. Essa resposta estava relacionada à idéia de que aqueles que se curavam deviam continuar vivendo nas montanhas, devido ao medo das recaídas, além do estigma da doença.

“Sanatório” lugar onde o paciente se conscientizava de sua condição própria e se sentia pertencente a um grupo com uma identidade própria.
Robbins JM, Carbonetti A.

Quanto ao comportamento geral dos tuberculosos, por anos internados nos sanatórios, Rist forneceu a definição em poucas linhas. As longas separações, pela lentidão da cura, destruíam os vínculos com os familiares. Esposas e maridos infiéis, famílias desinteressadas ou pouco preocupadas com a sorte do paciente internado, noivados e casamentos desfeitos, aumentavam a solidão, o doente sentia-se exilado, desorientando-se a vida psíquica. Todos esses fatores criaram um tipo de personalidade sui generis que Dumarest chamou de Hominis sanatorialis, o fruto da incerteza pelo temor do inesperado, fosse a chegada da morte, fosse a cura clínica, após anos e anos de internamento.

Para contar a vida dos tuberculosos nos sanatórios e nas estâncias climáticas, destaca-se o romance de Dinah Silveira de Queiroz, "Floradas na serra", passado em Campos do Jordão; aborda as reações e dramas dos doentes nos sanatórios, a angústia face à doença, ao abandono e afastamento dos familiares. Episódios amorosos com internados, a dificuldade da readaptação à vida normal. Uma jovem adiciona à doença o sofrimento que lhe ocasiona a paixão por seu médico assistente.

O sanatório foi associado à mística do ar da montanha. Aos poucos, o conceito climático foi se diluindo e os hospitais para tuberculosos passaram a ser localizados nas cidades com qualquer clima. Em resumo, a personalidade do Hominis sanatorialis negativava-se com a longa espera da negativação do escarro, que podia levar até 10 anos!

Referências
•Cuidados de enfermagem em pacientes com tuberculose em um sanatório espanhol 1943-19751. Rev. Latino-Am. Enfermagem maio-jun. 2014;22(3):476-83 DOI: 10.1590/0104-1169.3206.2440 www.eerp.usp.br/rlae
•Tuberculose : Aspectos históricos, realidades, seu romantismo e transculturação José Rosenberg

¹ Enfermeira, mestre em Ciências pela UFRJ, atuando no Laboratório de Pesquisa em Tuberculose/Instituto de Doenças do Tórax desde 2003, Parecerista do Comitê de Ética em Pesquisa/ Hospital Universitário Clementino Fraga Filho desde 2015, desenvolvendo ações de capacitação na Unidade de Telemedicina nas áreas de Telessaúde e EAD desde 2016.