Pulmão

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"Uma resenha sobre saúde e doença respiratória para divulgar os principais temas da pneumologia ao público em geral."

sexta-feira, 29 de março de 2019

Outono é responsável por aumento de problemas respiratórios e cardiovasculares


O ar mais seco aumenta a concentração de poluentes na atmosfera e, as baixas temperaturas e poluição do ar aumentam os riscos de doenças respiratórias e cardiovasculares. Os principais vilões são os vírus respiratórios que causam o resfriado e a gripe, sendo transmissíveis por gotículas respiratórias.

Com a chegada do outono, há oscilações de temperatura e baixa umidade relativa do ar. As alterações climáticas desta estação nos predispõem a diversas doenças respiratórias como resfriado, gripe, crise de asma, bronquite, sinusite e pneumonia.

O aumento da pressão arterial e da tendência à coagulação do sangue ocorrem com a exposição ao frio, e podem estar envolvidas com o maior risco de doenças cardiovasculares como infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral e arritmias. Além disso, as infecções respiratórias também podem gerar ainda mais estresse para o organismo, e acentuar ainda mais os riscos.

Crianças, idosos e pacientes que já sofrem de doenças respiratórias crônicas como enfisema, asma, bronquite crônica ou doenças cardiovasculares como insuficiência cardíaca, arritmias e insuficiência coronariana, devem enfrentar o frio com a saúde em dia.

Cuidados como lavar as mãos, beber muita água, não fumar, evitar aglomerações ou ambientes fechados, usar corretamente a medicação prescrita pelo médico no caso de asmáticos e vacinação para gripe, em especial para os doentes crônicos, podem reduzir os riscos de adoecimento.

Recomenda-se procurar atendimento médico em casos de febre acima de 38º C, falta de ar, mal-estar intenso ou sintomas persistentes. A automedicação deve ser evitada.

sexta-feira, 22 de março de 2019

Lutando contra o estigma da tuberculose com a arte


*Extraída de https://www.who.int/features/2016/russia-tuberculosis/en/

Texto de: Carla Conceição dos Santos¹

"Prenda a respiração"

A tuberculose ainda se apresenta como uma doença estigmatizada e que tem forte relação com os determinantes sociais que a acompanham. Por ser ainda uma doença temida como a expressão de algo que é socialmente digno de censura, a discriminação do doente com tuberculose é um fato real e torna-se um desafio a ser superado.

O preconceito pode causar forte impacto e causar sérios transtornos na vida de um doente, como o isolamento social, medo da morte e segregação na família e no trabalho. Muitas vezes, tudo isso contribui para o abandono do tratamento e consequente dificuldade no controle geral da doença.

O desconhecimento de que a tuberculose é tratável e curável pode responder em parte pelo comportamento das pessoas em relação ao doente tuberculoso. Vale lembrar que só unindo forças e quebrando o estigma e o preconceito, que conseguiremos vencer a tuberculose, na tentativa do efetivo controle da doença na população.

No texto abaixo, registramos um pequeno histórico do que foi apresentado por Paulina Siniatkina, pintora que usa os temas como 'estigma' e 'discriminação' para expressar sua arte. A exposição individual de pinturas, denominada "Prenda a respiração" foi inaugurada em 24 de março de 2016 na galeria Omelchenko, em Moscou, na Rússia, com o intuito de estimular o ativismo para derrubar as barreiras da sociedade em torno de pessoas estigmatizadas.

Paulina tem como objetivo principal combater o tabu em torno da tuberculose. Ela teve a doença em 2015 e se apresenta como uma sobrevivente e o seu projeto foi baseado em uma confissão. Não só o dela, mas de todos que não tiveram medo de me seguir nesta ideia. As pessoas retratadas nas pinturas, mostram os rostos juntos para inspirar os outros, que ainda podem ter medo e não serem capazes de falar sobre isso abertamente. Temer as opiniões de outras pessoas sobre a doença é uma das principais razões pelas quais é tão difícil acabar com a tuberculose. É relatado por Paulina que: “Nós só podemos lutar contra isso se formos capazes de falar sobre isso. Quando uma pessoa está doente, não é apenas o seu problema, mas o problema de toda a sociedade. É por isso que acredito que é importante”.

As reações foram diversas. Houve, principalmente, comentários favoráveis, mas também algumas reações negativas. O mais importante para a Paulina foi receber o resultado positivo de seu projeto. Ver pessoas de pé dizendo "Eu também tive tuberculose e não tenho mais medo de dizer isso!" significou para ela, como artista, ver seu projeto de usar a arte para reduzir o preconceito atendido.

A exposição em Moscou foi apenas o primeiro passo, sua intenção é levar esta exposição para o maior número possível de países.

O preconceito em relação a uma doença só será vencido quando as pessoas conhecerem claramente suas características, riscos de contágio e a forma de prevenção.

Saiba um pouco mais acessando: WHO E/OU STOPTB

¹ Enfermeira, mestre em Ciências pela UFRJ, atuando no Laboratório de Pesquisa em Tuberculose/Instituto de Doenças do Tórax desde 2003, Parecerista do Comitê de Ética em Pesquisa/ Hospital Universitário Clementino Fraga Filho desde 2015, desenvolvendo ações de capacitação na Unidade de Telemedicina nas áreas de Telessaúde e EAD desde 2016.

sexta-feira, 15 de março de 2019

Lesões bucais relacionadas ao tabagismo


Entrevista: Prof. Anna Thereza Thomé Leão¹

O cigarro ocasiona uma inflamação crônica na mucosa da cavidade oral, podendo levar ao aparecimento de lesões. Na boca, uma das doenças mais associadas ao cigarro é o câncer. Considerado a principal causa de morte evitável pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o tabagismo é responsável pelo desenvolvimento de aproximadamente 50 doenças, incluindo o câncer. A OMS estima que 4,9 milhões pessoas (mais de 10 mil por dia) morrem todos os anos em decorrência do cigarro, que contém cerca de 4.720 substâncias tóxicas, das quais pelo menos 70 são cancerígenas.

É importante que o fumante seja examinado para avaliar a existência de lesões pré-malignas, ou seja leucoplasias, eritroplasias e eritroleucoplasias. São placas brancas, acinzentadas ou vermelhas, que podem sangrar ou não. Podem surgir na língua, na mucosa da bochecha, no soalho da boca ou no lábio. Devem ser avaliadas/acompanhadas por um dentista.

A periodontite está muito associada ao hábito de fumar. O tabagista tem 6 vezes mais chance de apresentar a periodontite. Além disso, quando comparado ao não fumante, ele perde mais dentes durante a doença periodontal do que os não fumantes porque normalmente apresentam a doença em nível mais grave e têm mais recessão gengival.


Além do câncer, da doença periodontal e de maior propensão à perda de dentes, podemos citar também a halitose, pois o produto da combustão das substâncias do tabaco pode gerar um odor desagradável. O tabagista também apresenta dentes escurecidos pela nicotina e gengivas com manchas acastanhadas por uma maior produção de melanina estimulada pelo fumo.

Outra queixa frequente é a xerostomia, que ocorre pela diminuição do fluxo salivar, levando ao desconforto da boca seca e uma maior chance de apresentar cáries, já que a saliva protege nossos dentes. Uma maior tendência a candidíase também pode ocorrer. A alteração do paladar também acontece, principalmente em relação aos alimentos salgados, devido a mudanças funcionais e morfológicas nas papilas gustativas.

O tabagista apresenta menor sangramento gengival no quadro de inflamação da gengiva do que o não tabagista. Este não sangramento muitas vezes pode dificultar o fumante a perceber a doença da gengiva, que normalmente sangra quando está inflamada.

Quando há cessação do tabagismo, o ex-fumante passa a sentir melhor o sabor dos alimentos, além da coloração da gengiva voltar gradativamente ao normal. O fumo leva a uma capacidade diminuída para reparar o tecido. Um maior consumo de cigarros também está associado a uma maior intensidade na manifestação da doença.

Os fumantes devem realizar um autoexame na boca, observando manchas ou feridas que não cicatrizam e dentes amolecidos. Devem controlar a placa bacteriana com uma ótima escovação de dentes e uso de fio dental, pois são mais susceptíveis à doença periodontal. A língua deve ser escovada para remover a saburra e reduzir a halitose.

Fazer visitas periódicas ao dentista para que ele possa avaliar sua saúde bucal e condição periodontal.

¹ Graduação em Odontologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1981) e doutorado em Odontologia Social pelo University College London (1993). Atualmente e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de Odontologia, com ênfase em periodontia, atuando principalmente nos seguintes temas: determinantes comportamentais, sociais e psicológicos relacionados à periodontia, questionários sobre saúde percebida e qualidade de vida; e medicina periodontal.

sexta-feira, 8 de março de 2019

Nove em cada dez pessoas respiram ar poluído


Texto de: Carla Conceição dos Santos¹

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 90% da população mundial estão expostos a concentrações de poluentes acima dos limites recomendados.

A poluição do ar, tanto em ambientes externos como internos, causa aproximadamente 7 milhões de mortes por ano, sendo que em torno de 80% delas são por doenças não transmissíveis e 20% são por infecções respiratórias, principalmente pneumonias.

Desse total, cerca de 3,8 milhões de óbitos são atribuíveis à inalação de fumaça produzida pela queima de biomassa (madeira e outros resíduos orgânicos) no interior dos domicílios. As populações mais afetadas são mulheres e crianças das áreas rurais ou da periferia urbana, sendo que 90% dessas mortes acontecem principalmente nos países mais pobres da Ásia, África e América.

Nas grandes cidades, as principais fontes de poluição atmosférica são a queima de combustíveis fósseis pelos veículos automotores e as emissões de indústrias e usinas termoelétricas.

Indicadores de morbidade e mortalidade mostram que a poluição do ar é responsável por:
• Mais de um terço das mortes por doenças cardiovasculares;
• Um a cada cinco óbitos por acidentes cerebrovasculares (AVC);
• Infecções respiratórias agudas, principalmente em crianças;
• Crises de asma brônquica;
• Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC);
• Quase 10% dos óbitos por câncer de pulmão.

De 30 de outubro a 1º de novembro de 2018, ocorreu em Genebra (Suíça) a Primeira Conferência Global da OMS sobre Poluição Atmosférica e Saúde, onde foi discutida a necessidade de medidas urgentes para prevenir as doenças e mortes relacionadas à poluição.

O controle da poluição do ar é especialmente importante para reduzir a mortalidade por pneumonia em crianças menores de cinco anos (Leia mais em SBP). Mais da metade dos óbitos por pneumonia nessa faixa etária estão associados a esse fator de risco. Além disso, a exposição precoce parece ser um fator preditivo para o desenvolvimento posterior de doenças respiratórias crônicas.

Por sua vez, os idosos, os portadores de doenças respiratórias e cardiovasculares, os diabéticos, os fumantes e os trabalhadores com exposição ocupacional a biomassa são os grupos da população adulta que sofrem o maior risco de adoecerem e morrerem pelos efeitos da exposição à poluição do ar.

Veja mais recomendações para evitar as consequências da poluição atmosférica acessando o site da SBPT.


¹ Enfermeira, mestre em Ciências pela UFRJ, atuando no Laboratório de Pesquisa em Tuberculose/Instituto de Doenças do Tórax desde 2003, Parecerista do Comitê de Ética em Pesquisa/ Hospital Universitário Clementino Fraga Filho desde 2015, desenvolvendo ações de capacitação na Unidade de Telemedicina nas áreas de Telessaúde e EAD desde 2016.

sábado, 2 de março de 2019

Pulmões na Folia


Há muitas dicas e recomendações sobre os cuidados com a saúde durante o período de carnaval que você pode encontrar na internet, em jornais, revistas, etc. E isso não é por acaso.

A maioria das pessoas que se dispõe a “pular carnaval” tende a querer aproveitar cada minuto. Isso significa acompanhar blocos de rua, frequentar bailes e outros eventos durante todos os dias de folia, levando o corpo a exaustão. Esta atitude somada a um ou mais comportamentos de risco (longos períodos de exposição ao sol, uso de fantasias ou roupas pesadas e abafadas, baixa ingestão de líquidos, comportamento sexual de risco, etc.) pode se tornar um desastre para a saúde, trazendo efeitos imediatos, como a desidratação, ou em médio prazo, como o desenvolvimento de alguma doença sexualmente transmissível.

O que poucas pessoas pensam, é que a maratona de carnaval funciona como uma atividade física pesada, e deve ser tratada como tal. Isso para uma pessoa de comportamento sedentário pode trazer consequências como dores musculares, aceleração dos batimentos cardíacos e dificuldade para respirar – sentindo dor e desconforto.

Por isso mesmo é importante saber respirar. Como assim? Embora respirar seja um ato involuntário, há variações que ajudam ou atrapalham durante exercícios físicos. É a respiração que oxigena o nosso corpo, algo essencial para a manutenção da vida, e quando iniciamos qualquer atividade física, se torna necessário o aumento do envio de oxigênio para as células. O corpo então precisa fazer uma adaptação. Quanto mais pesada a atividade física, mais oxigênio é necessário e, portanto, há uma mudança na frequência cardiorrespiratória.

A frequência respiratória em condições normais pode variar de 14 a 20 respirações por minuto em homem adulto, mas durante uma atividade física mais intensa pode chegar a 40 por minuto.

Um exemplo da adaptação do corpo, citada acima, é que quanto mais o ritmo e a intensidade de um exercício aumentam, o indivíduo tende a respirar não apenas pelo nariz, mas também pela boca. Se a pessoa insiste em inspirar pelo nariz e expirar pela boca somente, ela tende a cansar mais rápido e pode ter a famosa "dor lateral".

Diante de tudo, é importante que o folião mais animado fique atento aos sinais do corpo e que sempre considere as dicas de saúde já conhecidas, como escolher roupas leves e adequadas ao evento, alimentar-se bem e de forma equilibrada, beber bastante líquido e limitar a ingestão de bebidas alcoólicas, descansar antes e depois de atividades intensas, entre outras. E, por fim, deve lembrar que, em caso de problemas, não deve tomar remédio por conta própria, mas procurar atendimento médico.