Pulmão

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"Uma resenha sobre saúde e doença respiratória para divulgar os principais temas da pneumologia ao público em geral."

sábado, 29 de setembro de 2018

Conversando sobre dispneia


Dispneia é o termo usado para definir a sensação desconfortável de dificuldade para respirar. Na maioria das vezes, costuma estar associada a doenças cardíacas ou pulmonares. A forma como as pessoas sentem e descrevem a dispneia pode variar, a depender da causa.

A frequência e profundidade das incursões respiratórias costumam aumentar como resposta fisiológica durante a prática de exercícios, em situações de ansiedade ou na presença de febre. Nestas condições, as pessoas tendem a respirar de forma mais rápida, mas isso não costuma causar desconforto. Dispneia ocorre quando a respiração acelerada é acompanhada pela dificuldade de respirar com a profundidade e a velocidade adequadas e pode variar de leve e temporária a intensa e persistente. É um sintoma comum descrito em algumas séries como presente em 1 de 4 pessoas que procuram atendimento médico.

Os sinais que indicam que uma pessoa apresenta dispneia são respiração rápida e superficial. Outros sinais e sintomas podem estar presentes, como tosse, dor torácica, palpitações, sibilos, cianose e edema.

Escala de dispneia

Por ser um sintoma subjetivo associado ao desempenho no exercício e à qualidade de vida, é importante quantificar a dispneia (Fonte: Escala de dispneia modificada – Medical Research Council)

Classificação Características
Grau I - Falta de ar surge quando realiza atividade física intensa (correr, nadar, praticar esporte).
Grau II - Falta de ar surge quando caminha de maneira apressada no plano ou quando caminha em subidas.
Grau III - Anda mais devagar do que pessoas da mesma idade devido à falta de ar; ou quando caminha no plano, no próprio passo, tem de parar para respirar.
Grau IV - Após andar menos de 100 metros ou alguns minutos no plano, tem de parar para respirar.
Grau V - Falta de ar impede que saia de sua casa.


Causas de dispneia

Um episódio isolado de dispneia relacionado a esforço físico intenso, por exemplo, pode ser considerado um evento normal, entretanto, na maioria das vezes, dispneia está relacionado a uma doença.

As causas mais comuns de dispneia são asma, insuficiência cardíaca, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), doenças pulmonares intersticiais, pneumonias e doenças psicogênicas usualmente definidas como ansiedade.

Se a dispneia se instala de forma súbita ou se é severa pode ser um sinal de gravidade. Dispneia aguda pode ser atribuída a crises de asma, pneumonia extensa, obstrução de vias aéreas por corpo estranho ou tumor, reação alérgica, anemia por perda sanguínea volumosa, falência cardíaca e hipotensão, tromboembolismo pulmonar e colapso pulmonar.

Dispneia crônica, definida por aquela que se prolonga por mais de 1 mês, pode ser relacionada a asma não controlada, DPOC, cardiopatias diversas, obesidade e fibrose pulmonar. Condições adicionais podem causar dispneia, como traumatismo torácico, câncer de pulmão, tuberculose, derrame pleural, edema pulmonar e hipertensão pulmonar.

Dispneia é uma condição que costuma cursar com hipóxia e hipoxemia, que significa baixos níveis de oxigênio nas células e no sangue, o que pode levar à diminuição do nível de consciência com risco temporário ou permanente de déficit cognitivo.

Muitas vezes, dispneia pode ser uma condição que coloca a vida em risco. Você deve procurar um Serviço de Emergência imediatamente caso apresente quadro súbito ou severo de dispneia, incapacidade física relacionada à dispneia ou dor torácica associada à dispneia.

O diagnóstico das causas de dispneia incluem anamnese e exame clínico, exames de imagem como radiografia de tórax e tomografia computadorizada de tórax, espirometria e eletrocardiograma. Exames adicionais como oximetria e hemogasometria arterial podem ser realizados. O tratamento da dispneia vai depender da causa e, em casos severos, pode requerer oxigênio suplementar.

sábado, 22 de setembro de 2018

Dia Mundial do Pulmão - 25 de setembro


Dia 25 de setembro é a data escolhida para celebrar a saúde respiratória e a qualidade do ar em todo o mundo. O pulmão é um órgão vital que é vulnerável a infecções e outras agressões oriundas do meio externo devido a sua constante exposição a partículas e agentes químicos do ar ambiente.

O impacto global das cinco principais doenças respiratórias - Asma, DPOC, infecções respiratórias, tuberculose e câncer de pulmão - é imenso. Juntas, elas representam uma significativa causa de morte e incapacidade, em suas diversas formas de apresentação aguda e crônica.

A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) atinge 65 milhões de pessoas no mundo e 3 milhões morrem a cada ano em decorrência da doença. Cerca de 330 milhões de pessoas têm asma, a doença crônica da infância mais comum, que afeta 14% das crianças globalmente. Pneumonias matam milhões de pessoas anualmente e é a principal causa de morte em crianças abaixo de 5 anos. Mais de 10 milhões de indivíduos adoecem por tuberculose todos os anos. Tuberculose é responsável por 1.4 milhões de óbitos anualmente e é considerada a doença infecciosa mais letal. Câncer de pulmão mata 1.6 milhões de pessoas a cada ano.

Além dessas cinco, há várias outras doenças respiratórias de abrangência mundial que atingem milhões de pessoas, como os distúrbios relacionados ao sono, a hipertensão pulmonar e as doenças pulmonares ocupacionais.

Estima-se que, globalmente, 4 milhões de pessoas morram prematuramente por doenças respiratórias crônicas. 2 bilhões de pessoas são expostas a fumaça tóxica domiciliar , 1 bilhão inala poluentes externos e 1 bilhão é exposto a fumaça de cigarro.

Felizmente, a maioria das doenças respiratórias é prevenível. Reduzir o consumo de tabaco, melhorar a qualidade do ar no ambiente de trabalho pode prevenir doenças pulmonares ocupacionais e programas de imunização podem prevenir casos de pneumonia, em especial em população mais vulnerável como crianças e idosos.

Prevenção, controle e cura dessas doenças e a promoção da saúde respiratória devem ser uma prioridade do setor de saúde em nível mundial.

sábado, 15 de setembro de 2018

Tive contato com pessoa com tuberculose! O que devo fazer?


Texto de: Carla Santos¹

A tuberculose é uma doença transmitida a partir da inalação de partículas muito pequenas (aerossóis) eliminadas por pessoas com tuberculose ativa. A pessoa com tuberculose no pulmão pode transmitir o bacilo para outras pela tosse, fala ou pelo espirro. Somente pessoas com tuberculose ativa pulmonar ou laríngea transmitem a doença. Vale ressaltar que a tuberculose não se transmite pelo compartilhamento de roupas, lençóis, copos e outros objetos.

Denomina-se “caso índice” o indivíduo que está com tuberculose ativa e “contato” são todas as pessoas que convivem com ele, seja no mesmo domicílio ou no trabalho, de forma esporádica ou contínua. Contatos próximos de pacientes que eliminam grande quantidade de bacilos de tuberculose têm maior risco de infecção e adoecimento. O contato direto com o paciente em ambiente fechado, com pouca ventilação e ausência de luz solar, representa maior chance de outra pessoa ser infectada com a bactéria causadora da doença.

Todos os contatos deverão ser avaliados e, caso seja confirmada a doença ativa, inicia-se o tratamento da tuberculose. Em casos específicos, onde há infecção tuberculosa (tuberculose latente), está indicada a profilaxia para diminuir o risco de adoecimento.

A atividade de controle de contatos é uma ferramenta importante para diagnosticar precocemente os casos de doença e identificar os indivíduos com maior risco de adoecer para então indicar as medidas de prevenção. O controle de contatos é realizada fundamentalmente pela atenção básica de saúde e deve ser considerada uma prioridade.



Como é o processo de avaliação dos contatos?

O caso índice deve ser entrevistado o quanto antes para identificação das pessoas que serão definidas como contatos. Sempre que possível, deverá ser feita uma visita domiciliar para melhor entendimento das circunstâncias que caracterizam os contatos identificados na entrevista do caso índice. Todos os contatos serão convidados a comparecer à unidade de saúde para serem avaliados.

Como será a avaliação?

Consiste na realização de anamnese e exame físico onde deverão ser pesquisados principalmente sintomas respiratórios. O contato sintomático, aquele que apresenta queixas que incluem tosse (às vezes, com sangue), perda de peso, sudorese noturna e febre, deverá ter sua investigação ampliada com a inclusão de radiografia de tórax e exame de escarro. Outros exames poderão ser solicitados, a depender das características de cada caso. Se o resultado do exame de escarro for positivo (baciloscopia positiva), a pessoa examinada está doente e será iniciado o tratamento.

A maioria das pessoas resiste ao adoecimento após a infecção tuberculosa e desenvolve imunidade parcial à doença. No entanto, alguns bacilos permanecem latentes, embora bloqueados pela reação inflamatória do organismo. A Prova tuberculínica (ou PPD) é um teste diagnóstico cutâneo que permite detectar se uma pessoa está infectada pelo bacilo da tuberculose.

Para quem não tem sintomas, mas tem prova tuberculínica positiva, depois de afastada doença ativa por meio de exame radiológico a decisão de iniciar tratamento para infecção latente vai depender de alguns critérios. Embora a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomende que, em contatos, seja priorizado o tratamento de crianças e lactentes, parece haver consenso que o tratamento da tuberculose latente seja oferecido a todos aqueles indivíduos infectados que sejam considerados de alto risco para desenvolver a doença. O tratamento da infecção latente reduz significativamente o risco de desenvolvimento de tuberculose ativa e a transmissão da doença.

Em caso de dúvidas procure a unidade de saúde mais próxima da sua residência.

¹ Enfermeira, mestre em Ciências pela UFRJ, atuando no Laboratório de Pesquisa em Tuberculose/Instituto de Doenças do Tórax desde 2003, Parecerista do Comitê de Ética em Pesquisa/ Hospital Universitário Clementino Fraga Filho desde 2015, desenvolvendo ações de capacitação na Unidade de Telemedicina nas áreas de Telessaúde e EAD desde 2016.

domingo, 9 de setembro de 2018

Qual é a diferença entre Fibrose Pulmonar e Fibrose Cística?


A Fibrose Pulmonar é uma doença crônica não infecciosa, de causa desconhecida e limitada aos pulmões, em que ocorre substituição progressiva do pulmão normal por fibrose (cicatrizes), prejudicando a sua capacidade para realização das trocas gasosas (oxigenação do sangue) e causa sintomas como falta de ar e cansaço.

A Fibrose Cística é uma doença genética crônica que leva ao acúmulo de muco nas vias respiratórias. Atinge, além dos pulmões, o pâncreas e o aparelho digestivo.

Fibrose Pulmonar

É uma doença crônica e progressiva, que costuma afetar indivíduos acima de 50 anos, com incidência de 4 casos em cada 100 mil pessoas. Caracteriza-se pelo enrijecimento do interstício pulmonar impedindo o bom funcionamento das trocas gasosas e pode ter causas diversas.

A Fibrose Pulmonar pode estar associada às doenças reumáticas e autoimunes, como lúpus, artrite reumatóide, sarcoidose e esclerodermia e pode ser consequente a inalação de poeiras (sílica, amianto, etc.), infecções (pneumocistose e tuberculose), tabagismo e efeito colateral de medicamentos, como amiodarona. Quando não é possível estabelecer sua origem, é denominada Fibrose Pulmonar Idiopática (FPI).

Na fase inicial da doença os sintomas podem ser mínimos ou imperceptíveis, mas à medida que a fibrose evolui, tornam-se evidentes dispneia desencadeada por atividades físicas e tosse persistente, com expectoração escassa ou mesmo ausente. A dispneia pode progredir e se manifestar com tarefas simples ou mesmo em repouso. A FPI caracteriza-se por declínio progressivo e irreversível da função pulmonar.

Fibrose cística

É uma doença hereditária que causa deficiências progressivas no organismo, principalmente nos pulmões, pâncreas e o sistema digestivo. É também a doença genética grave mais comum na infância. Um a cada 10 mil nascidos no Brasil é portador de Fibrose Cística.

A doença afeta o sistema respiratório de forma severa. O muco espesso fica retido nas vias aéreas, o que aumenta o risco de infecções por bactérias. O paciente pode contrair tosse com secreção produtiva, pneumonias de repetição e bronquite crônica. A Fibrose Cística leva o organismo a produzir um muco de 30 a 60 vezes mais espesso que o normal, o que causa bronquiectasias, ou seja, a dilatação dos brônquios devido ao acúmulo de secreção, ocasionando inflamações e infecções frequentes, como pneumonia e sinusite.

Além do sistema respiratório, a Fibrose Cística também compromete o aparelho digestivo e as glândulas sudoríparas. O paciente tem má absorção de nutrientes e não ganha peso, apesar de se alimentar bem. A quantidade e frequência das evacuações também aumentam, com odor forte e presença de gordura. A secreção espessa anormal pode obstruir os ductos biliares, o que favorece a instalação de processos inflamatórios no fígado.

O Teste do Pezinho, realizado no Brasil em recém-nascidos é um importante teste de triagem. Em casos suspeitos, a criança deve ser encaminhada a um centro de referência para confirmação. No adulto, a doenças pode ser diagnosticada pelo Teste do Suor.

Tanto a Fibrose Pulmonar como a Fibrose Cística são doenças progressivas, ainda sem cura, cujas formas de tratamento são custosas, mas têm avançado muito.

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