Pulmão

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"Uma resenha sobre saúde e doença respiratória para divulgar os principais temas da pneumologia ao público em geral."

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Maconha e DPOC - qual a conexão?


Há algum tempo, muitos questionamentos começaram a ser feitos sobre a conexão existente entre a maconha e as doenças respiratórias. Se com o cigarro a conexão já está comprovada, através de pesquisas e estatísticas, com a maconha não acontece o mesmo. Há dúvidas sobre a relação de causalidade, sobre o tamanho do impacto e mesmo sobre suas propriedades terapêuticas.

Nos Estados Unidos, vários estados permitem o uso recreativo e/ou médico da maconha. Por esse motivo, muitos pesquisadores têm se debruçado sobre o tema - eles investigam se a maconha pode causar doenças ou ajudar a tratá-las. Naquele país, muitas pessoas utilizam a erva e seus derivados para auxiliar no alívio da dor crônica e dos efeitos colaterais do tratamento do câncer, além de tratar epilepsia.

Mas isso não extingue a preocupação de que o uso recreativo da maconha possa aumentar o risco de uma pessoa desenvolver doenças, como por exemplo a DPOC. Por este motivo, foi elaborado um artigo com os principais links entre a maconha e a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica.

O que é DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica)?

A DPOC se refere a um grupo de doenças pulmonares que inclui bronquite e enfisema. Os sintomas da DPOC podem incluir chiado, falta de ar e aperto no peito. De acordo com a gravidade, também pode incluir: fadiga, perda de peso não intencional, baixo nível de oxigênio. A doença causa inflamação que prejudica o fluxo de ar para dentro e para fora dos pulmões, dificultando a respiração. Trata-se de doença progressiva - isso significa que os sintomas de uma pessoa tendem a piorar com o tempo. O tabagismo é a causa mais comum da DPOC, sendo responsável por cerca de 85% a 90% dos casos.

MACONHA X DPOC

O vínculo entre o uso de maconha e a DPOC é menos certo, e os achados foram mistos. Qualquer associação entre a droga e a doença parece se relacionar com a forma como uma pessoa usa maconha e com que frequência a usa. Autores de um estudo de 2014 concluíram que fumar pequenas quantidades de maconha, provavelmente, não causa danos significativos, mas que o uso pesado pode obstruir as vias aéreas e danificar o tecido pulmonar.

A maconha contém vários compostos químicos chamados canabinóides. Dois dos canabinóides mais conhecidos são o canabidiol (CBD) e o tetrahidrocanabinol (THC). THC é o composto que causa o efeito psicoativo. Fumar é a maneira mais comum de usar maconha, mas óleos comestíveis e tinturas também podem conter CBD e THC. No entanto, nenhuma pesquisa concluiu que o uso desses produtos causa danos aos pulmões.

De acordo com a American Thoracic Society, o consumo excessivo de maconha pode causar danos aos pulmões, o que poderia aumentar o risco de uma pessoa desenvolver DPOC. Isso porque muitos dos produtos químicos, nocivos e voláteis, que estão presentes na fumaça do tabaco, também estão presentes na fumaça da maconha. Além disso, independentemente da fonte, a fumaça, a cinza e o calor são prejudiciais para os pulmões e podem danificar seu revestimento. Isso parece sugerir que a fumaça da maconha provavelmente causa a DPOC.

Também, a maneira de fumar pode aumentar o risco de danos nos pulmões: uma pessoa geralmente inala a fumaça da maconha mais profundamente e a mantém nos pulmões por mais tempo do que a fumaça do cigarro.

O risco de desenvolver DPOC também pode depender de quanto tempo uma pessoa está usando maconha: um estudo de caso sugere que o uso prolongado de maconha pode levar à obstrução do fluxo de ar e aumentar a frequência respiratória de uma pessoa, o que pode afetar a função pulmonar. O uso a longo prazo também pode levar à inflamação e edema dos brônquios, o que pode causar sintomas de bronquite crônica, como aumento da produção de muco, tosse e sibilância.

Os resultados de outros estudos indicam que fumar maconha com moderação não causa a DPOC. Autores de uma revisão de 2013 concluíram que o uso regular de maconha pode causar um ligeiro aumento na resistência das vias aéreas, o que pode danificar o revestimento dos pulmões e dificultar a respiração. No entanto, não parece haver um vínculo definitivo entre o consumo regular de maconha e o desenvolvimento da DPOC.

A maconha pode piorar os sintomas da DPOC?

Fumar maconha pode tornar os sintomas mais graves em pessoas que já têm a doença. Por exemplo, fumar maconha pode danificar os pequenos vasos sanguíneos das vias aéreas, o que pode piorar sintomas como tosse e aumento da produção de muco. Fumar maconha também causa lesões microscópicas nas grandes vias aéreas, o que pode piorar os sintomas de bronquite crônica.

A maconha pode tratar a DPOC?

Fumar qualquer coisa, incluindo a maconha, nunca é uma boa ideia para pessoas com doença respiratória. Mas a maconha em outras formas pode beneficiar pessoas com DPOC. No entanto, nenhuma pesquisa concluiu que maconha pode tratar DPOC. Algumas dificuldades são apontadas para realização desse tipo de estudo: a variedade e os potenciais de cada tipo de maconha e o fato de que uma pessoa que fuma maconha, em geral, também fuma tabaco - o que dificulta a avaliação.

No entanto, no que diz respeito a Capacidade Vital Forçada (CVF), pode haver algum benefício com o uso da maconha. CVF é a quantidade de ar que uma pessoa pode exalar com força e rapidez após respirar fundo. A CVF reduzida é um sinal de DPOC. De acordo com uma revisão de 19 estudos de 2015, fumar maconha pode aumentar a CVF, embora as razões permaneçam um pouco incertas. Alguns pesquisadores sugeriram que o CBD e o THC podem diminuir o edema nos pulmões e ajudar a abrir as vias aéreas em pessoas com DPOC.

É importante entender que existem outros medicamentos e tratamentos para a DPOC que não incluem a maconha. O tratamento da DPOC geralmente envolve broncodilatadores e esteróides que foram estudados e aprovados por agências reguladoras, enquanto o uso da maconha não foi aprovado.

Fonte: Medical News Today

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