Pulmão
sexta-feira, 4 de maio de 2018
História dos sanatórios no tratamento de tuberculose: prevenção ou isolamento?
Foto: tirada em 03/05/2009 por André Govia - (fonte: https://www.flickr.com)
Texto de: Carla Santos¹
A Tuberculose (TB) é caracterizada como uma doença com forte impacto social e está intrinsecamente ligada à história da humanidade. Por tratar-se doença infecciosa transmitida pelo ar, o paciente tuberculoso sempre foi considerado uma fonte de contágio e de perigo para a sociedade. O risco de transmissão e a falta de opção terapêutica tornaram o doente uma pessoa estigmatizada.(http://pulmaoonline.blogspot.com.br/2018/03/tuberculose-um-flagelo-antigo.html).
No século XIX, surge a idéia do tratamento dos tísicos em estabelecimentos fechados, onde deviam permanecer e receber alimentação adequada. De meados do século XIX até meados do século XX, uma das medidas mais eficazes que existia no tratamento da TB era a internação dos doentes em sanatórios. O primeiro centro foi criado em Gobersdorf (Silésia), nos Alpes alemães, em 1854, por iniciativa do médico Herman Brehmer. As bases científicas do sanatório antituberculose foram propagadas por Dettweiller, que lutou durante 20 anos para, em 1860, afinal, impor suas concepções. Inicialmente, os sanatórios eram centros particulares com características semelhantes às dos hotéis de luxo, mas, posteriormente, na Europa e em outras partes do mundo, foram criados sanatórios públicos para atender os pacientes tuberculosos pobres.
O apogeu dos sanatórios ocorreu após a descoberta do bacilo de Koch, em 1882. A base do tratamento consistia em ar puro, alimentação abundante e descanso, embora o paciente pudesse praticar exercícios moderados. O sanatório era o lugar onde o paciente tomava consciência de sua condição e se sentia pertencente a um grupo com uma identidade própria, do qual fazia parte. Uma vez curados, alguns pacientes permaneciam no sanatório e até chegavam a trabalhar nele. Essa resposta estava relacionada à idéia de que aqueles que se curavam deviam continuar vivendo nas montanhas, devido ao medo das recaídas, além do estigma da doença.
“Sanatório” lugar onde o paciente se conscientizava de sua condição própria e se sentia pertencente a um grupo com uma identidade própria.
Robbins JM, Carbonetti A.
Quanto ao comportamento geral dos tuberculosos, por anos internados nos sanatórios, Rist forneceu a definição em poucas linhas. As longas separações, pela lentidão da cura, destruíam os vínculos com os familiares. Esposas e maridos infiéis, famílias desinteressadas ou pouco preocupadas com a sorte do paciente internado, noivados e casamentos desfeitos, aumentavam a solidão, o doente sentia-se exilado, desorientando-se a vida psíquica. Todos esses fatores criaram um tipo de personalidade sui generis que Dumarest chamou de Hominis sanatorialis, o fruto da incerteza pelo temor do inesperado, fosse a chegada da morte, fosse a cura clínica, após anos e anos de internamento.
Para contar a vida dos tuberculosos nos sanatórios e nas estâncias climáticas, destaca-se o romance de Dinah Silveira de Queiroz, "Floradas na serra", passado em Campos do Jordão; aborda as reações e dramas dos doentes nos sanatórios, a angústia face à doença, ao abandono e afastamento dos familiares. Episódios amorosos com internados, a dificuldade da readaptação à vida normal. Uma jovem adiciona à doença o sofrimento que lhe ocasiona a paixão por seu médico assistente.
O sanatório foi associado à mística do ar da montanha. Aos poucos, o conceito climático foi se diluindo e os hospitais para tuberculosos passaram a ser localizados nas cidades com qualquer clima. Em resumo, a personalidade do Hominis sanatorialis negativava-se com a longa espera da negativação do escarro, que podia levar até 10 anos!
Referências
•Cuidados de enfermagem em pacientes com tuberculose em um sanatório espanhol 1943-19751. Rev. Latino-Am. Enfermagem maio-jun. 2014;22(3):476-83 DOI: 10.1590/0104-1169.3206.2440 www.eerp.usp.br/rlae
•Tuberculose : Aspectos históricos, realidades, seu romantismo e transculturação José Rosenberg
¹ Enfermeira, mestre em Ciências pela UFRJ, atuando no Laboratório de Pesquisa em Tuberculose/Instituto de Doenças do Tórax desde 2003, Parecerista do Comitê de Ética em Pesquisa/ Hospital Universitário Clementino Fraga Filho desde 2015, desenvolvendo ações de capacitação na Unidade de Telemedicina nas áreas de Telessaúde e EAD desde 2016.
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