Pulmão

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"Uma resenha sobre saúde e doença respiratória para divulgar os principais temas da pneumologia ao público em geral."

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Tuberculose não é só nos pulmões?


A tuberculose é uma doença de transmissão aérea, a partir da inalação de aerossóis. Ao falar, espirrar e, principalmente, ao tossir, as pessoas com tuberculose ativa lançam no ar partículas em forma de aerossóis que contêm bacilos. O contágio ocorre quando uma pessoa com o organismo fragilizado inala gotículas espalhadas pelo ar provenientes de indivíduos doentes.

Vários aparelhos e sistemas podem ficar comprometidos pela tuberculose, com predomínio das formas pulmonares (85%) nos países com maior prevalência. No Brasil, há predomínio de informações sobre a tuberculose pulmonar, nas formas primárias e pós-primárias, e poucos relatos em relação às outras manifestações clínicas da doença.

A tuberculose pulmonar é classificada como primária quando diagnosticada em pessoas que entram em contato com o bacilo da tuberculose (bacilo de Koch) pela primeira vez. Quando acontece a reativação de infecção latente, oriunda de anos ou décadas, denomina-se tuberculose pulmonar pós-primária.

Apesar das formas pulmonares serem as mais comuns, a tuberculose pode afetar outros órgãos. A tuberculose extrapulmonar em geral resulta de disseminação hematogênica. Quando o indivíduo sadio é infectado, o bacilo se dissemina pela corrente sanguínea e pode se alojar em diversas áreas do corpo. A tuberculose extrapulmonar costuma atingir, preferencialmente, indivíduos com dificuldade em conter a infecção, como recém-nascidos, pacientes com AIDS e pessoas com imunodeficiência.

As formas mais comuns de tuberculose extrapulmonar são a ganglionar, a meníngea e a óssea. A doença pode acometer também o sistema geniturinário, intestinal, laringe, olhos, pele, pleura, pericárdio e peritôneo. Os sintomas gerais são comuns aos da forma pulmonar, como febre, sudorese noturna e emagrecimento, acrescidos de queixas relacionadas ao órgão afetado.

Meningite tuberculosa, a forma mais grave de tuberculose, é comum em crianças do nascimento aos 5 anos e indivíduos imunocomprometidos, cursa com cefaleia, febre baixa, náuseas, sonolência e pode evoluir para coma e óbito. Pode ser prevenida na infância pelo uso de vacinação com BCG.

A linfadenite tuberculosa (escrófula) ou tuberculose ganglionar usualmente compromete os linfonodos de cadeias cervicais e supraclaviculares posteriores. Caracteriza-se por edema generalizado dos linfonodos comprometidos que podem se tornar dolorosos, confluentes e formarem fístulas.

A tuberculose pode afetar também os ossos e as articulações. A doença de Pott é uma infecção na coluna que inicia em um corpo vertebral e, muitas vezes, se dissemina para as vértebras adjacentes, com estreitamento do espaço discal entre elas. Edema paravertebral pode resultar de um abscesso. Os sintomas incluem dor progressiva ou constante nos ossos envolvidos e artrite crônica ou subaguda (em geral, monoarticular). Na doença de Pott, a compressão da coluna espinal produz déficits neurológicos, inclusive paraplegia.

O tratamento das formas extrapulmonares é feito de acordo com os esquemas preconizados para tratamento de tuberculose pulmonar, porém por tempo superior. O uso de tuberculostáticos é normalmente indicado por 6 a 9 meses, exceto quando há comprometimento de meninges que requer tratamento por 9 a 12 meses.

Em casos específicos, é necessário tratamento cirúrgico complementar, para ressecção de trompas ou intestino infectado, drenagem de pleura ou pericárdio, fechamento de fístulas broncopleurais ou descompressão de coluna afetada por abscesso tuberculoso ou fixação de coluna vertebral (Mal de Pott).

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Cigarros eletrônicos: uma alternativa aos cigarros convencionais?


A indústria do tabaco está em uma cruzada para convencer a Organização Mundial da Saúde (OMS) a considerar o tabaco aquecido e vaporizadores como alternativa aos cigarros convencionais.

Em documento entregue, na oitava sessão da Conferência das Partes da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (COP8), promovida pela OMS, a indústria do tabaco com a chancela de 72 especialistas, defende que “Do ponto de vista da saúde, a principal distinção entre os produtos de nicotina é se eles sofrem combustão ou não. Não é se são produtos de tabaco ou não tabaco”.

As indústrias de tabaco alegam, com base em estudos independentes, que os vaporizadores são 95% menos danosos à saúde do que os cigarros convencionais – por não gerarem combustão e terem menos substâncias tóxicas. Já os produtos de tabaco aquecido ainda têm poucas pesquisas científicas, enfrentando resistência maior de órgãos reguladores de saúde no mundo.

O argumento das indústrias é rechaçado pela chefe do Secretariado da Convenção, a brasileira Vera Luiza da Costa e Silva: “A comunidade científica continua com visões divergentes, não existe consenso. As empresas têm interesse em vender e captar novos consumidores, principalmente crianças e adolescentes. A cada dia mais gente está parando de fumar, e eles estão querendo voltar a transformar o ato de fumar em algo socialmente aceito, através de um produto que pode parecer um remédio para reduzir os danos, mas que na verdade se desconhece ao certo”.

Atualmente, os dispositivos para fumar são proibidos no Brasil. A venda, a importação e a propaganda de qualquer dispositivo eletrônico para fumar são proibidas pela Anvisa, segundo a Resolução RDC 46/2009.

Segundo a Anvisa, os cigarros eletrônicos são proibidos no Brasil pelo fato de serem vendidos prometendo ser um tratamento para cessação do tabagismo, um produto sem riscos à saúde e que poderia ser utilizado em ambientes fechados. Nenhuma destas alegações foi devidamente comprovada, conforme a agência reguladora.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

As novas formas de tabaco


“O cigarro mata”, o slogan das campanhas de saúde pública, é agora usado pela indústria do tabaco para criar novos produtos que reduzam esse risco. É o caso do IQOS, aparelho de tabaco aquecido, lançado pela Philip Morris e que faz grande sucesso no Japão, o terceiro maior consumidor de tabaco no mundo.

Essa nova forma de consumir tabaco é apresentada como menos prejudicial à saúde em relação ao tabaco convencional, informação contestada por profissionais de saúde e opositores naturais da indústria do tabaco. O marketing utiliza a informação de que o produto é menos nocivo e, portanto preferível ao tabaco convencional, embora ainda não sejam conhecidos os efeitos que estes produtos possam produzir.

Como funciona o IQOS?


É um pequeno aparelho que possui uma bateria e uma caneta onde são colocados os heatsticks que são fumados. Os heatsticks são vendidos em lotes de 20, como nos tradicionais maços de cigarros, que são colocados na caneta e permitem de 10 a 12 inalações. No aparelho, o tabaco é aquecido a temperatura de 350oC, o que evita a produção de inúmeros produtos químicos liberados pela combustão do cigarro convencional, que queima o tabaco a temperaturas que podem chegar a 900oC.


Não ocorrendo combustão, não há cheiro nem cinza. O tabaco aquecido sem combustão tem sido apresentado como uma solução alternativa para os fumantes, mas ainda assim as opiniões sobre o tema dividem os especialistas a nível internacional.

Futuro otimista ou vício igualmente nocivo?

Para os defensores do dispositivo, o tabaco sem combustão pode ser reconhecido como instrumento que reduz os constituintes nocivos do cigarro sem eliminar a satisfação do fumador adulto.

Para os especialistas, estes dispositivos não devem ser utilizados em programas de redução tabágica porque não estão regulados e contêm uma multiplicidade de substâncias cujos efeitos secundários não estão descritos. “O aparelho respiratório existe para receber apenas ar, de preferência ar puro e quaisquer substâncias inaladas repetidamente são potencialmente lesivas. Levaram-se décadas a perceber os efeitos devastadores dos hábitos tabágicos. Queremos agora retroceder no tempo e assumir esta responsabilidade para com as gerações futuras, a propósito dos novos produtos derivados do tabaco?”, questiona o médico Carlos Robalo, pneumologista no Hospital Universitário de Coimbra e Secretário Geral da Sociedade Europeia Respiratória.

É inquestionável que o tabaco é prejudicial á saúde e a nicotina é uma droga aditiva. O IQOS é a nova forma de consumir nicotina, a substância que causa dependência e induz efeitos no sistema nervoso central e cardiovascular. O melhor mesmo é não fumar.

“Os pulmões humanos são feitos para respirar ar limpo e, consequentemente,
qualquer substância inalada em longo prazo pode ser prejudicial”


sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Dia Mundial da Pneumonia

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Estabelecido em 2009, o Dia Mundial da Pneumonia é comemorado todos os anos no dia 12 de novembro. Seus principais objetivos são:

1) Aumentar a conscientização sobre a pneumonia, principal causador de mortes no mundo em crianças menores de 5 anos;
2) Promover intervenções para proteger, prevenir e tratar a pneumonia, destacando abordagens e soluções comprovadas que necessitem de recursos e atenção;
3) Gerar ações para combater a pneumonia e outras doenças infantis comuns, mas que podem ser fatais.

A pneumonia é uma das principais causas de óbito, apesar de ser de fácil prevenção e tratamento. Grupos populacionais que vivem em comunidades pobres correm maior risco de desenvolver pneumonia. Toda criança, independentemente de onde venha a nascer, merece acesso a vacinas e remédios.

Fatos importantes:

* A pneumonia é responsável por 16% de todas as mortes de crianças menores de 5 anos, matando 920 136 crianças em 2015.
* A pneumonia pode ser causada por vírus, bactérias ou fungos.
* A pneumonia pode ser prevenida pela imunização, nutrição adequada e pelo tratamento de fatores ambientais.
* Pneumonia causada por bactérias pode ser tratada com antibióticos, mas apenas um terço das crianças com pneumonia recebem os antibióticos de que necessitam.

A pneumonia é uma forma de infecção respiratória aguda que afeta os pulmões. Os pulmões são compostos de pequenos sacos chamados alvéolos, que se enchem de ar quando uma pessoa saudável respira. Quando um indivíduo tem pneumonia, os alvéolos ficam cheios de pus e líquido, o que torna a respiração dolorosa e limita a passagem do oxigênio.

A pneumonia é a maior causa infecciosa de morte em crianças em todo o mundo. A pneumonia matou 920 136 crianças com menos de 5 anos em 2015, representando 16% de todas as mortes de crianças com menos de cinco anos de idade - segundo a OMS, uma criança morre de pneumonia no mundo a cada 20 segundos. A prevenção se dá com intervenções simples e o tratamento é feito com medicação e cuidados de baixo custo e baixa tecnologia.

Prevenir é sempre o melhor remédio

Alguns passos rumo a prevenção:
• alimentar o bebê apenas com leite materno durante os seis primeiros meses de vida, no mínimo;
• lavar bem as mãos e todos os utensílios do bebê antes que entrem em contato com a criança;
• evitar ambientes com atmosfera poluída, como fumaça de cigarro;
• vacinar contra os principais agentes causadores da doença (exemplo: pneumococcus).

Fonte: http://www.who.int/life-course/news/events/world-pneumonia-day-2018/en/

Releia nossa postagem sobre pneumonia: Pneumonia

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Maconha e DPOC - qual a conexão?


Há algum tempo, muitos questionamentos começaram a ser feitos sobre a conexão existente entre a maconha e as doenças respiratórias. Se com o cigarro a conexão já está comprovada, através de pesquisas e estatísticas, com a maconha não acontece o mesmo. Há dúvidas sobre a relação de causalidade, sobre o tamanho do impacto e mesmo sobre suas propriedades terapêuticas.

Nos Estados Unidos, vários estados permitem o uso recreativo e/ou médico da maconha. Por esse motivo, muitos pesquisadores têm se debruçado sobre o tema - eles investigam se a maconha pode causar doenças ou ajudar a tratá-las. Naquele país, muitas pessoas utilizam a erva e seus derivados para auxiliar no alívio da dor crônica e dos efeitos colaterais do tratamento do câncer, além de tratar epilepsia.

Mas isso não extingue a preocupação de que o uso recreativo da maconha possa aumentar o risco de uma pessoa desenvolver doenças, como por exemplo a DPOC. Por este motivo, foi elaborado um artigo com os principais links entre a maconha e a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica.

O que é DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica)?

A DPOC se refere a um grupo de doenças pulmonares que inclui bronquite e enfisema. Os sintomas da DPOC podem incluir chiado, falta de ar e aperto no peito. De acordo com a gravidade, também pode incluir: fadiga, perda de peso não intencional, baixo nível de oxigênio. A doença causa inflamação que prejudica o fluxo de ar para dentro e para fora dos pulmões, dificultando a respiração. Trata-se de doença progressiva - isso significa que os sintomas de uma pessoa tendem a piorar com o tempo. O tabagismo é a causa mais comum da DPOC, sendo responsável por cerca de 85% a 90% dos casos.

MACONHA X DPOC

O vínculo entre o uso de maconha e a DPOC é menos certo, e os achados foram mistos. Qualquer associação entre a droga e a doença parece se relacionar com a forma como uma pessoa usa maconha e com que frequência a usa. Autores de um estudo de 2014 concluíram que fumar pequenas quantidades de maconha, provavelmente, não causa danos significativos, mas que o uso pesado pode obstruir as vias aéreas e danificar o tecido pulmonar.

A maconha contém vários compostos químicos chamados canabinóides. Dois dos canabinóides mais conhecidos são o canabidiol (CBD) e o tetrahidrocanabinol (THC). THC é o composto que causa o efeito psicoativo. Fumar é a maneira mais comum de usar maconha, mas óleos comestíveis e tinturas também podem conter CBD e THC. No entanto, nenhuma pesquisa concluiu que o uso desses produtos causa danos aos pulmões.

De acordo com a American Thoracic Society, o consumo excessivo de maconha pode causar danos aos pulmões, o que poderia aumentar o risco de uma pessoa desenvolver DPOC. Isso porque muitos dos produtos químicos, nocivos e voláteis, que estão presentes na fumaça do tabaco, também estão presentes na fumaça da maconha. Além disso, independentemente da fonte, a fumaça, a cinza e o calor são prejudiciais para os pulmões e podem danificar seu revestimento. Isso parece sugerir que a fumaça da maconha provavelmente causa a DPOC.

Também, a maneira de fumar pode aumentar o risco de danos nos pulmões: uma pessoa geralmente inala a fumaça da maconha mais profundamente e a mantém nos pulmões por mais tempo do que a fumaça do cigarro.

O risco de desenvolver DPOC também pode depender de quanto tempo uma pessoa está usando maconha: um estudo de caso sugere que o uso prolongado de maconha pode levar à obstrução do fluxo de ar e aumentar a frequência respiratória de uma pessoa, o que pode afetar a função pulmonar. O uso a longo prazo também pode levar à inflamação e edema dos brônquios, o que pode causar sintomas de bronquite crônica, como aumento da produção de muco, tosse e sibilância.

Os resultados de outros estudos indicam que fumar maconha com moderação não causa a DPOC. Autores de uma revisão de 2013 concluíram que o uso regular de maconha pode causar um ligeiro aumento na resistência das vias aéreas, o que pode danificar o revestimento dos pulmões e dificultar a respiração. No entanto, não parece haver um vínculo definitivo entre o consumo regular de maconha e o desenvolvimento da DPOC.

A maconha pode piorar os sintomas da DPOC?

Fumar maconha pode tornar os sintomas mais graves em pessoas que já têm a doença. Por exemplo, fumar maconha pode danificar os pequenos vasos sanguíneos das vias aéreas, o que pode piorar sintomas como tosse e aumento da produção de muco. Fumar maconha também causa lesões microscópicas nas grandes vias aéreas, o que pode piorar os sintomas de bronquite crônica.

A maconha pode tratar a DPOC?

Fumar qualquer coisa, incluindo a maconha, nunca é uma boa ideia para pessoas com doença respiratória. Mas a maconha em outras formas pode beneficiar pessoas com DPOC. No entanto, nenhuma pesquisa concluiu que maconha pode tratar DPOC. Algumas dificuldades são apontadas para realização desse tipo de estudo: a variedade e os potenciais de cada tipo de maconha e o fato de que uma pessoa que fuma maconha, em geral, também fuma tabaco - o que dificulta a avaliação.

No entanto, no que diz respeito a Capacidade Vital Forçada (CVF), pode haver algum benefício com o uso da maconha. CVF é a quantidade de ar que uma pessoa pode exalar com força e rapidez após respirar fundo. A CVF reduzida é um sinal de DPOC. De acordo com uma revisão de 19 estudos de 2015, fumar maconha pode aumentar a CVF, embora as razões permaneçam um pouco incertas. Alguns pesquisadores sugeriram que o CBD e o THC podem diminuir o edema nos pulmões e ajudar a abrir as vias aéreas em pessoas com DPOC.

É importante entender que existem outros medicamentos e tratamentos para a DPOC que não incluem a maconha. O tratamento da DPOC geralmente envolve broncodilatadores e esteróides que foram estudados e aprovados por agências reguladoras, enquanto o uso da maconha não foi aprovado.

Fonte: Medical News Today