Pulmão

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"Uma resenha sobre saúde e doença respiratória para divulgar os principais temas da pneumologia ao público em geral."

sexta-feira, 6 de abril de 2018

Pneumonias de Repetição na Infância



Entrevistadoras: Caroline Baía¹ E Natália Lisbôa² (Alunas do 8º período de medicina /UFRJ).

Entrevistado: Dr. Clemax Couto Sant'Anna³

1- O que significa pneumonia de repetição?
A pneumonia de repetição na infância é quando a criança apresenta infecção pulmonar geralmente com febre, tosse, queda do estado geral, um quadro mais grave. Essas crianças frequentemente são atendidas na emergência e medicadas com antibióticos e outros medicamentos para infecção. Na prática, porém, existem muitos casos que são chamados de pneumonia de repetição e na verdade são crises de asma ou bronquite, em que a criança apresenta febre, tosse, chiado no peito. É importante saber diferenciar esses dois quadros para realizar o diagnóstico e tratamento correto.

2- O que favorece pneumonias de repetição?
Geralmente podem estar relacionadas a:
- Imunodeficiências – defeitos no sistema imunológico que levam a queda na eficácia da defesa do indivíduo contra microrganismos - que favorecem infecções não só nos pulmões, mas também em outros órgãos levando a infecções de pele, otites, sinusites, entre outros.
- Malformações congênitas – adquiridas no desenvolvimento do bebê ainda no útero – também podem levar a defeitos no aparelho respiratório que favorecem a pneumonias.
- Outros fatores - desnutrição, falta de aleitamento materno, falta de imunizações adequadas para a idade.

3- A exposição ao tabaco favorece esses quadros?
Sim. O cigarro apresenta vários malefícios a saúde e pode afetar a criança ainda na barriga da mãe. Se a mãe é fumante, a criança pode nascer com baixo peso, defeitos na formação do sistema nervoso e também do respiratório. Depois do nascimento, o problema passa a ser o tabagismo passivo: a convivência das crianças com adultos fumantes dentro de casa. Isso afeta cronicamente o funcionamento do aparelho respiratório da criança, levando a pneumonia de repetição, asma, otite e sinusite. Se a criança se tornar um adolescente fumante (tabagista ativo), o quadro se torna ainda mais grave, levando a mais episódios de infecções respiratórias.

4- Quais são os principais agentes causadores?
Os agentes causadores das pneumonias de repetição dependendo da idade da criança podem ser vírus ou bactérias. Normalmente nas crianças pequenas (até 3 anos aproximadamente) os vírus são os principais agentes. Isso as vezes leva a uma certa dificuldade do diagnostico, como mencionado anteriormente. É o caso comum de crianças que frequentam creches a partir de idade muito pequena; então, essas crianças frequentemente têm viroses porque seus coleguinhas também têm viroses e transmitem uns para os outros. Algumas dessas crianças podem ter pneumonia pelo fato de serem pequenas (e seu sistema imunológico ainda estar em desenvolvimento) e pelo contato muito próximo com outras crianças que vão transmitindo essas viroses.
Os outros agentes causadores são as bactérias que normalmente levam a um quadro um pouco mais grave. Esses pacientes normalmente possuem alguma imunodeficiência (algum defeito no seu sistema imunológico). Hoje em dia cada vez se descobre mais esses casos e, portanto, elas devem ser investigadas nesse sentido.

5- Quais são os principais sinais e sintomas? Dúvida frequente das mães: "Quando eu devo me preocupar com meu filho nesse caso"?
Essa pergunta é muito importante, pois há 30 anos se tenta fazer rotinas para chamar atenção dos pais e cuidadores para sinais de alarme em pneumonias, contudo isso não pratica não é fácil. De modo geral, a preocupação envolve aquelas crianças que tem tosse, dificuldade na respiração, aumento da frequência respiratório – orientar as mães a observar se há alguma retração do tórax (tecnicamente chamada de tiragem), retração das costelas (mostrando esforço respiratório), ou outros sintomas como gemência, batimento da asa do nariz (nariz abre e fecha como se a criança estivesse “procurando ar” para respirar). Esses são os sinais, então, que chamam atenção para pneumonia.
Um detalhe nessa história é que as mães de crianças que têm asma já reconhecem uma crise de asma e essa crise se caracteriza basicamente pelo chiado, pela sibilância. Então, quando a criança tem chiado e dificuldade para respirar e alguns outros sintomas necessariamente isso não é uma pneumonia, isso é uma crise que pode ser tratada com broncodilatadores e outras medicações diferentes das usadas para pneumonias de repetição. São crises de asma ou crises de bronquite, como se costuma dizer; sendo essas com menos sinais de gravidade do que na pneumonia propriamente.

6 – E o uso de antibióticos?
Isso tem que ser bem destacado, porque nos casos de pneumonia de repetição verdadeira, quando a criança é examinada pelo médico no serviço de saúde, essas crianças frequentemente precisam usar antibiótico. No entanto, na prática se sabe que muitas crianças têm crises de asma (ou bronquite) que são confundidas com pneumonias de repetição. Dessa forma, essas crianças que possuem crises repetidas de chiado no peito, crise de bronquite ou crise de asma, a princípio não precisam de antibiótico. Enquanto que nos quadros mais graves, cujo os sinais e sintomas já chamamos atenção aqui, na maioria das vezes precisa de antibiótico. Por isso, não se deve estimular que em casa as crianças façam uso de antibiótico indiscriminadamente. O ideal é que diante de casos como esses haja a procura do serviço de saúde para a criança ser avaliada.

7- Existe o chamado "princípio de pneumonia"?
Esse termo virou uma figura folclórica, mas a interpretação dessa história é que há casos mais graves e casos menos graves. A pneumonia as vezes é difícil de diagnosticar, então poder-se-ia considerar que os casos menos graves as crianças poderiam ser tratadas em casa, pois dependendo do que ela estiver apresentando, se ela for ao serviço de saúde, pode fazer o tratamento com antibiótico e broncodilatadores em casa. Esses seriam os quadros chamados “princípio de pneumonia”. Enquanto que os quadros mais graves, consideradas pneumonias propriamente ditas, que normalmente tem maior gravidade e que na boa parte dos casos precisaram de internação. O termo não existe de fato, mas para interpretar a ideia trata-se de casos menos graves de uma infecção respiratória que pode ou não necessitar do uso de antibiótico.

8 – Esses casos menos graves podem evoluir para pneumonia?
Isso é difícil de dizer, mas, geralmente, não; pois sabe-se que os casos graves já se iniciam graves, não esperam 2 ou 3 dias para progredirem. Contudo, as vezes algumas crianças podem ter resfriado que evoluem para sinusite e essa para episódios de pneumonia. Isso e possível, mas na pratica, quando é grave já se inicia grave.

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³ Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1974), mestrado em Tisiologia e Pneumologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1982) e doutorado em Medicina (Doenças Infecciosas e Parasitárias) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1994). Atualmente é Professor Associado da Universidade Federal do Rio de Janeiro; ex-Editor da Revista de Pediatria SOPERJ (1676-1014); do Conselho Editorial do Jornal de Pediatria e do Boletim da Campanha Nacional contra a Tuberculose . Membro do Comitê Técnico Assessor a Tuberculose do Ministério da Saúde e do Childhood Tuberculosis Group da iniciativa StopTB da Organização Mundial da Saúde. Tem experiência na área de Medicina, com ênfase em Saúde Materno-Infantil, atuando principalmente nos seguintes temas: criança, tuberculose, infecções respiratórias, pneumonia e asma. (Retirado do Curriculo Lattes - CNPq)


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