No próximo
dia 31 de maio, comemora-se o Dia Mundial Sem Tabaco. A data costuma ser
marcada por intensas campanhas de combate ao fumo e muitos eventos que ajudam a
discutir o assunto. No entanto, trata-se de mais um ano em que a abordagem
acontece dentro do contexto da pandemia de Covid-19. Desse modo, queremos
trazer aqui um panorama atual dessa correlação. Aproveitamos, para isso, um
artigo publicado na Revista Portuguesa de Pneumologia, março/abril de 2021.
Encabeçado pela Dra. Claudia Pavão Matos, da Fundação Champalimaud, o artigo
traz algumas considerações sobre o que se tem de resultados científicos
confiáveis até o momento, além de apontar condutas a serem adotadas pelos
profissionais.
É importante
se ter claro que o tabagismo é comprovadamente um fator de risco para diversas
doenças, incluindo cânceres, doenças cardiovasculares e respiratórias, além de
diversas doenças crônicas e que, essas mesmas doenças, são fatores de risco
para morte por Covid-19. A queima dos componentes químicos do cigarro resulta
em uma fumaça tóxica que funciona como imunossupressor, ou seja, deixa os
indivíduos mais vulneráveis às infecções. Há, inclusive, estudos que apontam
uma probabilidade 34% maior de fumantes desenvolverem doenças como a influenza
em relação aos não fumantes, também de maior risco de internação, além de risco
maior de mortalidade por outros coronavírus.
Alguns
hábitos podem tornar os fumantes mais propensos ao desenvolvimento e
disseminação de infecções. Entre esses hábitos podem ser citados o contato
frequente entre mão e boca (uma das principais vias de infecção) e o
compartilhamento de produtos de tabaco, como cigarros eletrônicos e narguilé,
por exemplo. De acordo com o artigo português, um estudo recente, realizado
entre adolescentes e jovens adultos, mostrou que o diagnóstico positivo para
Covid-19 foi: 5 vezes mais provável entre pessoas que sempre utilizaram
cigarros eletrônicos e 7 vezes mais provável entre usuários duplos.
As
evidências científicas disponíveis sobre a associação entre o tabagismo e a
gravidade da doença são escassas e, algumas vezes, contraditórias, mas a OMS
alertou para que se tenha "cuidado ao ampliar alegações não comprovadas de
que o tabaco ou a nicotina podem reduzir o risco de COVID-19", tendo em
vista que alguns estudos recentes, não revisados, trazem alegações de que a
nicotina e/ou tabaco poderiam ter efeito protetor em fumantes em relação a
doença. Tais alegações podem trazer sérios riscos a saúde pública por conter conclusões que não estão bem fundamentadas e por haver claro conflito ético em alguns
casos, como uma pesquisa que recebeu financiamento da indústria do tabaco. No
entanto, é importante ressaltar que a maior parte dos estudos apresenta problemas
no que diz respeito ao tabagismo – o artigo aponta que uma recente revisão
revelou que apenas 26% de 256 estudos “relataram status atual, anterior e nunca
fumante, e uma alta proporção não fez distinção entre dados ausentes e nunca
fumantes”.
Ainda que
escassas, as boas evidências científicas mostram uma associação entre tabagismo
e gravidade da Covid-19. O artigo cita três estudos de revisão que apontam
nesse sentido:
- Revisão
sistemática de Vardavas e Nikatara sobre 5 estudos chineses trouxe como
resultado: risco 1,4 maior de risco para forma grave da doença em fumantes em
relação a não fumantes; risco 2,4 maior para internação em terapia intensiva,
ventilação mecânica ou morte.
-
Meta-análise de Patanavanich e Glantz que incluiu 19 estudos (11.590 pacientes
com Covid-19) e resultou em uma associação entre tabagismo e agravamento da
Covid-19.
- Artigo de
revisão recente que incluiu 8 revisões sistemáticas ou metanálises que apontou
evidências da associação entre tabagismo e a gravidade da doença.
Concluindo
que as dificuldades de avaliação estejam relacionadas a qualidade dos registros
médicos que pode ser negligente no que diz respeito ao relatório do status de
tabagismo, o artigo sugere a necessidade de “estudos populacionais bem
desenhados, controlados para outros fatores de risco” para ajudar a resolver a
questão. Além disso, a cessação do tabagismo ainda é considerada importante
para a redução da transmissão e gravidade da doença – o que torna as medidas para
redução do tabagismo essenciais também para o controle da pandemia. Dessa
forma, o artigo fornece algumas recomendações que podem ser seguidas
1. - Fazer
o registro de história do tabagismo em todos os pacientes de Covid-19.
2. - Promoção
dos programas de cessação de tabagismo para todos, incluindo profissionais de
saúde. Análise de CO apenas com medidas de proteção adequadas (uso de bocais
descartáveis etc.).
3. - Facilitar
o uso de terapia de reposição de nicotina para profissionais de saúde que fumam
durante seus turnos de trabalho.
4. - Recomendações
contra o compartilhamento de produtos do tabaco;
5. - Recomendações
para fumar apenas em áreas autorizadas;
6. - Priorizar
fumantes como grupo de risco para infecção.
7. - Promover
a cessação do tabagismo na comunidade.
8. - Ampliar
as medidas de controle do tabagismo, como as políticas que envolvem leis
antifumo, controle de propaganda e marketing, além da comercialização de certos
produtos fumígeros.
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mais em Revista Portuguesa de Pneumologia
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