Pulmão

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"Uma resenha sobre saúde e doença respiratória para divulgar os principais temas da pneumologia ao público em geral."

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Efeitos nos pulmões da inalação aguda de fumaça em ambientes fechados


Cerca de 80% dos óbitos em incêndios são causados por inalação de vapores e produtos químicos, principalmente monóxido de carbono e cianeto.

Os mecanismos de lesão pulmonar secundária à fumaça originada da combustão são: dano térmico direto, asfixia por falta de oxigênio, intoxicação pelo monóxido de carbono e irritação direta da árvore pulmonar pelas substâncias químicas inaladas.

As lesões térmicas pela inalação de fumaça, em geral ficam restritas a orofaringe, uma vez que o contato das vias respiratórias com ar muito quente estimula o fechamento da glote, diminuindo a passagem de calor para dentro dos pulmões, entretanto, em casos de aspiração de calor úmido, como vapores, que conseguem manter-se quentes até os pulmões, podem ocorrer sérias lesões térmicas dos pulmões.

A exposição da mucosa respiratória ao calor intenso pode provocar grave edema das vias aéreas, levando a broncoconstrição, de modo semelhante ao que ocorre em casos de alergia grave e edema de glote. Além disso, grandes incêndios em locais fechados, com pouca ventilação, consomem rapidamente uma grande quantidade de oxigênio. No ar ambiental que respiramos, cerca de 21% do volume é composto por oxigênio. Em incêndios, a concentração de oxigênio cai pela metade, sendo insuficiente para a oxigenação do sangue e das células, levando os pacientes à hipoxemia (falta de oxigênio no sangue).

A aspiração de outras substâncias na fumaça, como monóxido de carbônico e/ou cianeto também podem provocar asfixia. O monóxido de carbono que se forma a partir da queima de materiais é inalado pelos pulmões e cai na corrente sanguínea, ocupando espaço nos glóbulos vermelhos onde deveria estar o oxigênio. Os glóbulos vermelhos tomados por monóxido de carbono não conseguem transportar oxigênio, o que provoca a morte.

Outros fatores que contribuem para o dano pulmonar são as toxinas produzidas pela fumaça, ainda mais se considerarmos a ampla variedade dos componentes envolvidos no incêndio, bem como a imprevisível taxa de formação de subprodutos, dependendo da temperatura, espaço e composição do ambiente. A presença de grande quantidade de substâncias irritativas à mucosa do sistema respiratório provoca intensa reação inflamatória, levando à extravasamento de líquidos, formação de edema, produção de muco, descamação do epitélio, morte celular e necrose do tecido pulmonar.

Pacientes que sabidamente foram expostos à fumaça, mas não apresentam sinais de gravidade devem ser observados por 24 horas, pois o edema das vias aéreas pode demorar algumas horas para surgir. Qualquer pessoa exposta à fumaça em ambientes fechados por mais de 10 minutos deve ficar em observação.

Todos os indivíduos expostos à fumaça devem receber suplementação de oxigênio a 100% (lembre-se que o ar que respiramos é oxigênio a 21%). Este grande volume de oxigênio serve para reverter a hipoxemia causada pelas baixas concentrações de oxigênio nos incêndios e para aumentar a competição pela hemoglobina contra o monóxido de carbônico e o cianeto.

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