Pulmão

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"Uma resenha sobre saúde e doença respiratória para divulgar os principais temas da pneumologia ao público em geral."

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Efeitos da maconha na saúde respiratória

Fonte da imagem: https://www1.folha.uol.com.br (Autor: Alain Jocard)

A maconha (cannabis) é a droga ilícita mais consumida em países desenvolvidos, segundo dados da OMS, e uma das mais consumidas no Brasil. Ela é barata, o que promove um aumento do consumo, principalmente em períodos como o carnaval. A forma mais comum de consumo é a fumada, seja enrolada como cigarro, seja colocada em cachimbos – nesse processo o efeito é bastante rápido, pois a droga fumada chega rapidamente ao cérebro. De acordo com a pessoa que usa e o tipo de maconha e sua concentração de THC (tetrahidrocanabinol – responsável pelos efeitos no sistema nervoso central), as consequências podem ser mais ou menos intensas, como: euforia, sonolência, perda da coordenação motora e da noção de tempo e espaço, taquicardia, entre outras.


A maconha se constitui num importante tema social e de saúde pública. Mas no debate a polêmica sempre bate ponto. Basta uma pesquisa rápida na internet para observar como o dilema é amplo, atingindo diversas esferas da vida social. Por um lado, é defendida por grande parte de seus usuários e, atualmente, por muitas pessoas que se beneficiam ou podem se beneficiar por seus recursos terapêuticos, ou simplesmente por aqueles que defendem a liberdade de escolha, seja para o bem ou para o mal. Por outro lado, é combatida ou questionada por aqueles que veem nela os riscos da dependência química, do uso abusivo, dos riscos à saúde. Fato é que não há, nem de longe, algum consenso e, no que diz respeito a saúde respiratória, a história não é muito diferente.

Pesquisando sobre o assunto na internet você vai encontrar textos que fazem afirmações bem opostas, do tipo: “Uso moderado de maconha pode fazer bem para os pulmões - Novo estudo mostra que cigarro de tabaco causa mais danos para função pulmonar” (fonte: https://oglobo.globo.com/) ou “Cigarro de maconha 'causa os mesmos danos de 5 de tabaco' - Um único cigarro de maconha pode causar aos pulmões os mesmos danos de cinco cigarros de tabaco, revelou uma pesquisa realizada na Nova Zelândia” (fonte: https://www.bbc.com) ou ainda “Fumar maconha não prejudica o pulmão, afirmam cientistas” (fonte: https://super.abril.com.br). Encontramos estudos científicos que apontam graves danos e outros que relativizam seus efeitos. Então como saber o que de fato é verdade? A resposta é: através de estudos de revisão. Os estudos de revisão mapeiam todos os estudos científicos sobre o tema e analisam seus resultados a partir de uma comparação das metodologias a fim de identificar o que é confiável e os achados mais significativos. Assim, os estudos de revisão são uma ótima estratégia para identificar o que é válido sobre um determinado tema e, nesse sentido, apontamos abaixo dois deles.

O primeiro estudo, de 2014, publicado na Revista de Ciências Médicas e Biológicas, intitulado “Efeitos do consumo de cannabis na função respiratória” foi realizado em Portugal. Nele, as pesquisadoras Raquel Barros e Liliana Raposo realizaram uma pesquisa de evidência científica analisando 102 estudos sobre o tema e relataram que todas as formas de maconha apresentam mais de “400 constituintes químicos (monóxido de carbono e carcinogêneos)” e que os estudos demonstraram a presença de alterações nas vias aéreas “em indivíduos fumadores de cannabis similares às presentes em indivíduos fumadores de tabaco”. Além disso, em suas conclusões, as autoras apontam que: “as ideias pré-concebidas que o consumo de cannabis é inofensivo não são verdadeiras, e que esta substância apesar de ser consumida de forma menos frequente do que o tabaco, também promove alterações funcionais respiratórias nocivas”.

O segundo estudo, bem mais amplo, de 2017, foi realizado nos Estados Unidos, analisando mais de 10.000 estudos científicos. A pesquisa liderada pela Dra. Marie McCormick, foi intitulada “The health effects of cannabis and cannabinoids” e seu relatório publicado na The National Academies of Sciences Engineering Medicine. Foram mais de cem conclusões extraídas a partir das análises e que podem ser consultadas diretamente no relatório, mas no que diz respeito a saúde respiratória, as evidências mostraram que fumar maconha regularmente pode aumentar a incidência de bronquite crônica, suas crises, além piorar outros sintomas respiratórios, como tosse.

A principal diferença entre os dois estudos é que o primeiro possui um enfoque restrito na função respiratória e, por isso, o número de pesquisas analisadas tende a ser menor, enquanto o segundo aborda os efeitos sobre a saúde como um todo, ampliando o universo de pesquisas. De qualquer modo, ambos apontam danos a saúde respiratória que devem ser considerados.

Leia mais: Primeiro estudo
Segundo estudo

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