Pulmão

Pulmão
"Uma resenha sobre saúde e doença respiratória para divulgar os principais temas da pneumologia ao público em geral."

sábado, 30 de maio de 2020

Uma geração livre do tabaco

Foto:OPAS

No Dia Mundial Sem Tabaco, celebrado em 31 de maio, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) chama os jovens das Américas a reconhecer, expor e resistir às táticas enganosas usadas pela indústria do tabaco e seus aliados para recrutar clientes mais jovens – o que resulta em milhões de vidas perdidas.

Os fabricantes de tabaco e seus aliados nas indústrias de cigarros eletrônicos e afins gastam cerca de US$ 9 bilhões por ano em táticas agressivas de marketing, muitas delas voltadas especificamente para crianças e jovens.

De acordo com o diretor adjunto da OPAS, Jarbas Barbosa, a indústria do tabaco precisa que os jovens comprem seus produtos, levando à dependência de nicotina, para que se tornem consumidores de longo prazo. “Isso cria a oportunidade de substituir os 8 milhões de pessoas em todo o mundo que morrem por causas relacionadas ao tabaco todos os anos. É uma questão de lucros sobre as pessoas – uma escolha indefensável”.

Na campanha deste ano, a OPAS e a Organização Mundial da Saúde (OMS) buscam derrubar os mitos e expor as enganações do marketing feito pela indústria do tabaco e seus aliados para recrutar novos clientes, especialmente crianças e jovens. A publicidade do tabaco – que inclui seus produtos em filmes, TV e ferramentas de streamings – tenta fazer com que o fumo e o “vaping” pareçam modernos, sofisticados, adultos e legais. Na realidade, seu consumo causa não apenas enfermidades graves como doenças cardíacas, câncer e doenças pulmonares, mas também mau hálito, dentes descoloridos e pele enrugada.

A campanha do Dia Mundial Sem Tabaco deste ano convida os jovens a se unirem para se tornarem uma “geração livre do tabaco”. Para ajudar a capacitá-los, a OMS lançou um novo kit para estudantes (13 a 17 anos) para alertá-los sobre as táticas da indústria do tabaco usadas para conectá-los a produtos viciantes.

Para apoiar os jovens, a OPAS/OMS está pedindo aos governos e líderes da sociedade civil que façam sua parte para combater a influência exercida pelo tabaco e indústrias relacionadas.

Escolas devem recusar qualquer forma de patrocínio e proibir os representantes das empresas de tabaco e nicotina de se envolverem com os alunos. Celebridades e influenciadores devem rejeitar todas as formas de patrocínio, enquanto os serviços de televisão e streaming devem parar de mostrar o uso de tabaco ou cigarro eletrônico na tela. As plataformas de mídia social devem proibir todas as formas de comercialização de tabaco e produtos relacionados. Os governos e o setor financeiro não devem investir no tabaco e indústrias relacionadas.

Todos os setores podem ajudar a desconstruir as táticas de marketing do tabaco e indústrias relacionadas que atacam crianças e jovens.

Leia mais em: nacoesunidas.org

sexta-feira, 22 de maio de 2020

Por que pneumonias podem levar à morte?

Imagem extraída de: https://images-prod.healthline.com/

Pneumonia é uma infecção dos pulmões que pode ser causada por uma variedade de patógenos, incluindo vírus, bactérias e fungos e pode variar de um quadro leve de infecção a formas graves, que podem levar à morte. Embora possa afetar qualquer pessoa, indivíduos com maior deficiência imunológica ou determinadas condições clínicas têm maior risco de desenvolver formas graves de pneumonia.

Crianças menores de 2 anos, idosos acima de 65 anos, pacientes diabéticos e em uso de terapia imunossupressora, pessoas hospitalizadas, em especial se estiverem em uso de ventilação mecânica e tabagistas são aqueles considerados potencialmente sujeitos ao risco de óbito por pneumonia.

Os sintomas de pneumonia podem ser mais leves ou mais sutis em muitos pacientes de risco e, por esse motivo, essas pessoas podem não receber os cuidados necessários até que a infecção se agrave. É muito importante estar ciente do desenvolvimento de quaisquer sintomas e procurar atendimento médico imediato. Além disso, a pneumonia pode piorar condições crônicas preexistentes, particularmente as doenças do coração e pulmões o que pode levar a um rápido declínio das funções cardíacas e respiratórias.

A maioria das pessoas acaba se recuperando de uma pneumonia. No entanto, em pacientes hospitalizados, a taxa de mortalidade em 30 dias é de 5 a 10% e pode chegar a 30% daqueles admitidos em terapia intensiva.

A causa da pneumonia pode frequentemente determinar a gravidade da infecção. As pneumonias bacterianas são geralmente as mais graves. Os sintomas costumam se apresentar de forma aguda e podem afetar um ou muitos lobos do pulmão. Quando vários lobos dos pulmões são afetados, a pessoa normalmente requer hospitalização. Antibióticos são usados para tratar pneumonia bacteriana. Complicações podem ocorrer, como bacteremia e sepse.

Pneumonia viral habitualmente costuma ser uma doença de curso mais brando, mas em casos específicos, pode evoluir para formas exuberantes e síndrome respiratória aguda grave. Pneumonias virais podem, às vezes, ter sua evolução agravada quando uma infecção bacteriana se desenvolve simultaneamente ou após a pneumonia viral.

A pneumonia causada por fungos é tipicamente mais comum em pessoas com um sistema imunológico debilitado e essas infecções podem ser muito graves.

Pneumonia também pode ser classificada pelo local onde é adquirida - na comunidade ou em um hospital ou estabelecimento de saúde. A pneumonia adquirida em um hospital ou estabelecimento de saúde geralmente é mais perigosa porque o indivíduo já se encontra debilitado pela doença que causou sua hospitalização, além de haver maior risco de gravidade devido à alta prevalência de resistência a antibióticos.

Efeitos da pneumonia no organismo

Pneumonia causa inflamação nos alvéolos pulmonares (minúsculos sacos aéreos, presentes nos pulmões, envolvidos por capilares sanguíneos e uma fina membrana). A principal função dos alvéolos pulmonares é ser o local onde ocorrem as trocas gasosas entre o ar e o sangue. A inflamação dos alvéolos resulta em acúmulo de secreções, líquido e até pus, que dificulta a respiração.


Imagem extraída de: https://www.healthxchange.sg/syndication/PublishingImages/pneumonia-causes-symptoms.jpg

A chegada aos pulmões desses agentes infecciosos desencadeia uma intensa resposta inflamatória traduzida em sintomas como tosse, com ou sem a presença de secreção, a depender do agente causal. Em pneumonias bacterianas, o muco expectorado poder ser amarelo-esverdeado ou marrom; há casos em que a expectoração contem sangue e outros onde predomina tosse seca. O paciente pode referir do no peito, que piora quando respira fundo, febre alta e a respiração pode se tornar superficial ou mais difícil.

O acúmulo de líquido dentro e ao redor dos pulmões pode levar a mais complicações, como ocorrer acúmulo de líquido no espaço entre os pulmões e o revestimento interno da parede torácica, o chamado derrame pleural - na linguagem popular: "água na pleura". Um derrame pleural infectado, muitas vezes, precisará ser drenado.

Se o quadro infeccioso não for controlado, os pulmões se tornam incapazes de realizar de forma eficiente a troca gasosa, o que leva à insuficiência respiratória (respiração rápida, confusão mental e cianose periférica), hipoxemia, choque séptico e graves repercussões em outros órgãos, como coração, rins e cérebro.

As complicações de uma pneumonia podem ser letais. O risco de desenvolvê-las depende das condições do paciente, como idade, problemas prévios de saúde, o agente causal e a qualidade e rapidez de instituição do tratamento adequado.

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Fim do isolamento no Brasil: Quando e como?

Fonte da imagem: Hoje em dia

Seguindo a recomendação da Organização Mundial da Saúde, os estados brasileiros adotaram medidas de distanciamento social como estratégia para conter a propagação do coronavírus em março de 2020. O índice considerado efetivo seria de, no mínimo, 50%, mas como podemos observar na figura acima, no dia 13 de maio apenas Ceará e Amapá mantinham esse índice.

Há, à primeira vista, um descrédito, por parte da população, em relação a esse tipo de medida. Segundo uma pesquisa do Instituto Ipsos realizada em diversos países e divulgada em abril, o Brasil está entre os países que menos acreditam nas medidas de isolamento. No entanto, há uma corrente de pesquisadores que afirma que é eficaz e cientificamente comprovada, auxiliando no combate a doenças infecciosas e avanço da Covid-19.

Nesse caminho, durante o debate Desafios para o Brasil diante da Pandemia Covid-19, realizado online, através do Portal da Inovação no mês de abril, o subdiretor da OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde), Jarbas Barbosa afirmou, sobre a possível suspensão do isolamento, que: “Não há dúvidas de que teríamos uma catástrofe semelhante à da Itália. Basta olharmos o número de mortes no Rio de Janeiro e em São Paulo, onde há atraso de pelo menos uma semana entre a morte e a confirmação do caso” – leia mais em APS Redes. Mas então, qual seria o melhor momento para reduzir o isolamento e de que forma? A difícil pergunta tem estado no das buscas realizadas no Google, como mostram os números abaixo:

Perguntas sobre quarentena/ isolamento que mais cresceram no Brasil
Pergunta............................................... Crescimento (em %)
"Quando vai acabar a quarentena 2020?"..................7703.67%
"Quando voltam as aulas depois da quarentena?"..........1195.87%
"Até quando vai a quarentena no Rio de Janeiro?".......1083.55%
"Até quando a quarentena vai durar?".....................871.25%
"Até quando vai o isolamento social?"....................670.80%
Dados registrados em abril – Fonte: UOL.

O planejamento do fim do isolamento deve considerar uma série de fatores que variam conforme a realidade local e que, por isso, não pode ser aplicada de forma padronizada. Entre os fatores a serem considerados, encontramos: a curva de crescimento e pico de contágio; a capacidade de atendimento médico, considerando vagas de UTIs com leitos de suporte e respiradores; capacidade de testagem e os prazos para resultados; características da população, tamanho do grupo de risco; monitoramento e vigilância epidemiológica; além das medidas, reconhecidamente eficazes, de distanciamento social (distância mínima entre indivíduos), uso de máscaras e higiene, como a lavagem das mãos – estas últimas devem ser mantidas durante o período pós suspensão do isolamento social.

Seguindo este raciocínio, a suspensão do isolamento é um relaxamento de medidas de controle e não sua interrupção integral, a fim de que não ocorra um crescimento exacerbado no número de casos de Covid-19 durante o retorno das atividades. Assim, é necessário ajustar as interações sociais, mantendo alguns hábitos adquiridos durante o período mais rígido do processo.

sexta-feira, 8 de maio de 2020

A epidemia silenciosa de DPOC

Imagem extraída de: https://www.domedica.com/wp-content/uploads/bpo.png


Texto: Sonia Catarina de Abreu Figueiredo (médica pneumologista. professora da Faculdade de Medicina UFRJ)

DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica), a terceira causa de mortes no mundo, é um grave problema de saúde pública. A doença é o resultado final da exposição pulmonar a inúmeros estímulos ambientais, em especial o tabagismo e a poluição do ar ambiente, mas tem recebido pouca atenção quando comparada a outras doenças que causam grande morbidade e mortalidade global.

Estima-se que haja 328 milhões de pessoas portadoras de DPOC no mundo e, dentro de 15 anos, a doença possa se tornar a causa principal de morte mesmo em países desenvolvidos. Em países de baixa renda, onde ocorrem mais de 90% de óbitos relacionados à doença, DPOC já é considerada hoje um assassino silencioso.

O declínio lento na função pulmonar que caracteriza DPOC é associado a sintomas progressivos como tosse produtiva, dispneia progressiva e suscetibilidade a infecções respiratórias, as chamadas “exacerbações”, que são responsáveis por grande parte da mortalidade pela doença.

DPOC impacta de forma significativa a qualidade de vida de pessoas afetadas assim como produz efeitos diretos na economia. Pacientes com DPOC são, em geral, improdutivos e requerem tratamento especializado e continuado, sobrecarregando os serviços de saúde.

A maioria dos casos de DPOC é prevenível. Iniciativas que reduzam a exposição ao tabaco e outros poluentes domésticos resultantes da queima de biomassa e combustíveis fósseis poderiam contribuir para a diminuição dos efeitos adversos relacionados a essa exposição. Campanhas de advertência e programas de saúde direcionados a conscientizar a população sobre os agentes que levam à doença têm o potencial de revolucionar o diagnóstico e manejo clínico da DPOC e suas exacerbações, melhorar a qualidade de vida das pessoas e reduzir os custos dos serviços de saúde.

Um dado importante deve também ser considerado. DPOC é subdiagnosticada em muitas regiões do mundo, logo os estudos que hoje se propõem a analisar os impactos econômicos globais da DPOC são todos baseados em casos diagnosticados da doença, um número que não revela a totalidade de indivíduos acometidos.

Ter um melhor conhecimento sobre como prevenir, diagnosticar e manejar a DPOC, tanto em áreas rurais como urbanas, com certeza pode fazer a diferença, mas em virtude do caráter lento e progressivo da doença, medidas tomadas hoje só terão impacto sobre o os números de DPOC no mundo a longo prazo.


sexta-feira, 1 de maio de 2020

É possível viver bem com asma?




Texto: Sonia Catarina de Abreu Figueiredo (médica pneumologista. professora da Faculdade de Medicina UFRJ)

Estima-se que 10% da população brasileira tenha asma, doença que é a terceira maior causa de internações hospitalares pelo SUS. Dados do Ministério da Saúde revelam um índice surpreendente de óbitos por ano provocados por conta da doença: duas mil pessoas morrem e mais de 300 mil são internadas com crises agudas. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), apenas 12% dos casos de asma no Brasil estão controlados.

Esses números alarmantes mostram as dificuldades no manejo clínico dessa doença que atinge pessoas de todas as faixas etárias.

Asma é uma doença inflamatória crônica e persistente das vias aéreas inferiores. Viver bem com asma persistente pode ser um desafio. Os pacientes apresentam sintomas de falta de ar, aperto no peito, tosse e chiado no peito. Esses sintomas influenciam muitos aspectos da vida de um indivíduo, resultando em encargos emocionais, financeiros, funcionais e relacionados a medicamentos que afetam negativamente a qualidade de vida. A qualidade de vida do paciente asmático pode ser muito ruim, com visitas constantes a serviços de emergência e frequentes internações hospitalares se o tratamento não for realizado corretamente.

Pessoas com asma grave podem ser refratárias ao tratamento, podem ter um controle deficiente dos sintomas e correm um risco maior de morte. Sabe-se que a qualidade de vida é influenciada pelos níveis individuais de satisfação decorrentes das experiências de tratamento da vida real.

O tratamento consiste em reduzir o processo inflamatório e deve ser feito de forma preventiva e não somente para “tratar as crises”. Sem tratamento adequado, a asma tende a piorar e passar de leve para moderada ou grave, podendo levar à morte independente do grau que se apresenta.

Conhecer a doença é a melhor forma de controlar a asma. Interromper o uso da medicação, não respeitar a gravidade dos sintomas e se automedicar são condutas que devem ser evitadas. Estar atento aos sintomas e usar adequadamente a medicação prescrita é fundamental para viver bem com a asma. Medidas adicionais como reduzir a exposição aos gatilhos da doença, realizar vacinação anual contra a gripe, deixar de fumar e evitar o tabagismo passivo são capazes de minimizar ou diminuir a intensidade das crises.

Embora o manejo da asma tenha avançado nos últimos anos, o ônus da doença grave e seus impactos na qualidade de vida continuam sendo um grande problema. Estratégias convencionais e tratamentos baseados em diretrizes sozinhos são ineficazes para alguns pacientes. Intervenções não farmacológicas como programas de educação em asma, estímulo a prática de atividades físicas e intervenção psicológica em casos específicos são algumas estratégias que podem melhorar o bem estar de pacientes com formas graves de asma.