Pulmão

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"Uma resenha sobre saúde e doença respiratória para divulgar os principais temas da pneumologia ao público em geral."

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

BCG e Covid: a vacina e o que diz a mídia


A vacina BCG possui uma longa trajetória. Foi desenvolvida entre 1906 e 1919 por profissionais franceses no Instituto Pasteur: o médico e bacteriologista León Charles Albert Calmette e o veterinário e microbiólogo Jean-Marie Camille Guérin. A vacina foi aplicada pela primeira vez, ainda em formato oral, no Hospital de Caridade em Paris em 1921, em um recém-nascido cuja avó estava com tuberculose. Mas foi somente em 1942 que foi reconhecida como eficaz para imunização da tuberculose pela Academia Nacional de Medicina de Paris. E apenas em 1948, a Organização Mundial da Saúde passou a incentivar seu uso.

No Brasil
No Brasil, a primeira aplicação ocorreu em 1927 após o Professor Arlindo Raymundo de Assis, médico e cientista, ter testado a vacina em coelhos e bovinos com resposta eficiente. A partir daí a vacinação no país começou a ser ampliada, mas somente em 1968 foi iniciada a aplicação por via intradérmica. Desde 1976 o Ministério da Saúde tornou obrigatória sua aplicação em crianças. Por ano, o Brasil chega a produzir 15 milhões de doses, visando atender a demanda nacional.

O que previne
A vacina BCG é comprovadamente eficaz no combate formas graves da doença em crianças, como a meningite tuberculosa e apresentações disseminadas - ela ativa o sistema imunológico contra o agente transmissor (bacilo de koch).

Para quem
O Programa Nacional de Imunização prevê a aplicação em dose única em crianças de 0 a 4 anos - preferencialmente no bebê recém-nascido. Contra-indicações: peso inferior a 2kg, imunodeficiência, desnutrição, erupções cutâneas generalizadas e realização de tratamento com corticóides.

A marca

A famosa marca no braço que identifica as pessoas que tomaram a vacina, na verdade, é muito mais consequência do tipo de agulha usado do que da própria vacina - o uso de uma microagulha pode suavizar a lesão, fazendo com não existam marcas de identificação. No Japão, por exemplo, onde 100% da vacinação é feita por microagulhas, as pessoas desconhecem a marca da vacina¹. (Dhanawade, 2015).


BCG e Covid-19
Recentemente a vacina se tornou alvo de muitas notícias na mídia, em virtude de pesquisas realizadas no mundo, em especial uma da Universidade de Michigan², Estados Unidos. Resultados da pesquisa apontam que países em que a vacinação da BCG é obrigatória, em geral apresentaram menores taxas de infecção e morte por Covid-19. A partir de cálculos matemáticos, a pesquisa encontrou uma correlação entre vacinação da BCG e casos de Covid. Agora é necessário encontrar caminhos para comprovação ou não dessa relação.

Uma outra pesquisa que está sendo realizada, visa fazer com que a bactéria usada para fazer a BCG produza antígenos do vírus SARS-CoV-2 para imunizar as pessoas. O resultado seria uma vacina que proteja duplamente contra tuberculose e a Covid-19. A pesquisa é resultado de uma parceria entre as universidades federais de Minas Gerais (UFMG) e de Santa Catarina (UFSC), o Instituto Butantan, de São Paulo e o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Doenças Tropicais (INCT-DT), tendo ainda a colaboração da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e do Instituto Karolinska, na Suécia.

Assim, não há ainda qualquer comprovação sobre a efetividade da BCG na prevenção de infecção por Covid-19 e, por isso, não é recomendável que qualquer pessoa, fora do grupo já previsto pelo Programa Nacional de Imunização, tome a vacina. O que existe são pesquisas em desenvolvimento e que precisam de tempo para apresentar resultados definitivos. Sendo assim, continuamos na recomendação dos cuidados de prevenção e higiene frequente.

¹ Dhanawade SS, Kumbhar SG, Gore AD, Patil VN. Formação de cicatrizes e conversão de tuberculina após a vacinação com BCG em bebês: um estudo de coorte prospectivo. J Family Med Prim Care . 2015; 4 (3): 384-387. doi: 10.4103 / 2249-4863.1613 - Leia o artigo clicando AQUI

² A vacinação obrigatória com Bacillus Calmette-uérin (BCG) prevê curvas achatadas para a disseminação do COVID-19, Revista Science Advance - leia clicando AQUI

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